Ninguém vai a lugar nenhum

A curiosidade e o humor são os dois melhores antídotos de primeira linha para o fanatismo. Fanáticos não têm senso de humor e raramente são curiosos. É o que diz o escritor israelense Amos Oz. O humor e a curiosidade corroem as bases de qualquer fanatismo ao trazer à baila o riso e o risco. Juntos, o riso e o risco tornam a vulnerabilidade uma condição menos sofrida, quiçá simpática. E, com isso, tornam-se alicerces de uma reflexão sobre a dor que acolhe, em vez de alienar. Que conecta quem impõe e quem sente. Por isso a curiosidade e o humor sempre foram as estratégias mais eficientes de sobrevivência e coexistência dos judeus progressistas no mundo todo.

Neste domingo (7) completam-se seis meses desde que o grupo terrorista Hamas invadiu Israel, sequestrou mais de 250 e matou cerca de 1.200. O que se seguiu foi uma ofensiva militar intensa que já deixou mais de 30 mil mortos na Faixa de Gaza, de acordo com o Hamas, incluindo uma grande quantidade de civis. No Brasil, judeus progressistas se sentem sozinhos assistindo à apropriação de símbolos ligados ao Estado de Israel por uma certa direita e escutando falas erráticas, por vezes antissemitas, de lideranças de uma certa esquerda. A guerra e tais desgostos arrancaram o riso da gente.

Além disso, sofremos nas mão de fanáticos de todos os tipos que, desprovidos de curiosidade, repetem generalizações equivocadas de novo e de novo para, com isso, alabirintar o debate público.

A radicalização e o fanatismo promovem a falsa ideia de que estamos diante de uma guerra entre civilização e barbárie —seja qual for o lado dos civilizados e qual for o dos bárbaros. Também é vista por toda parte a ideia de que o problema só será resolvido com o aniquilamento do outro lado. Como se, para o conflito acabar, alguém tivesse de deixar sua casa ou morrer por ela.

São ideias inviáveis e, sobretudo, horríveis. Nenhum dos povos, nem israelense, nem palestino, vai a qualquer lugar. Não devem ir. O pedaço de terra que está em disputa é casa de ambos. Tragicamente, o óbvio parece ter se tornado confuso. Quem defende a coexistência tem que disputar holofotes com fanáticos. Nessa briga, temos perdido exatamente porque a guerra sequestrou nossas melhores armas —a curiosidade e o humor. Sem eles, podemos pouco, e os fanáticos vão à forra.

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