Mal avaliado, Grindr quer ir além do sexo e criar laços entre homens gays

George Arison, 47, casado e com dois filhos, acessa todos os dias o Grindr, app de relacionamento conhecido por proporcionar, com poucas deslizadas de dedo sobre a tela, aventuras pouco românticas a homens gays.

Mas, para o CEO da plataforma, é uma oportunidade de "conhecer outras pessoas" e conversar com os usuários sobre "suas necessidades", diz o georgiano radicado nos Estados Unidos em entrevista à 💥️Folha.

"Queremos que o Grindr também seja visto como um aplicativo social, em que as pessoas possam criar laços", diz o executivo em visita ao Brasil para o Web Summit Rio. "Mas é claro que não queremos perder nosso foco na parte dos relacionamento românticos" —o grosso do uso do app, na verdade, é mesmo o sexo casual.

A fórmula do app conquistou o público brasileiro, um dos dez maiores mercados da plataforma. O vice-presidente de Marketing, Tristan Pineiro, nota a opção de "entregar um biscoito" no aplicativo, para a pessoa sinalizar que o usuário acha outra pessoa atraente, em referência à gíria brasileira (pedir biscoito, na internet, significa pedir atenção). "É um recurso disponível só no Brasil."

Antes de expandir seu nicho, no entanto, o app vai precisar reconquistar a boa vontade do usuário, que mostra seu descontentamento nas avaliações em lojas de aplicativos como a Play Store, do Google, e a App Store, da Apple.

Os usuários reclamam que atualizações recentes aumentaram a quantidade de publicidade no aplicativo e pioraram o serviço. Há queixas sobre notificações que não chegam, por exemplo. Na Play Store, o Grindr recebe 3,3 pontos de cinco possíveis, bem abaixo dos seus concorrentes mais famosos, Tinder e Bumble, ambos com 4,4.

Arison diz que a empresa fundada em 2009 vende "há tempos" dois planos por assinatura, Grindr Unlimited (R$ 214,90 por ano) e Grindr Xtra (R$ 39,90 mensais), e que trabalha para melhorar a experiência de todos os usuários. Os assinantes gozam de um app sem anúncios e podem flertar com mais pessoas, entre outras vantagens.

Mesmo com menos usuários ativos do que concorrentes famosos como o Tinder e o Bumble, o Grindr se tornou o queridinho dos investidores, com uma equipe enxuta e receitas volumosas para seu tamanho.

Arison diz que ter o app com as contas em dia ajuda a melhorar o serviço entregue ao público LGBT+. O aplicativo diz em suas propaganda que quer ajudar as pessoas a construir suas "gayborhood", um trocadilho entre a palavra vizinhança em inglês ("neighborhood") e gay.

"Nem toda pessoa LGBT encontra um lugar pacífico na sua vizinhança, por isso às vezes precisamos de procurar alternativas", afirma Pineiro.

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Para além da conversa sobre acolhimento, o Grindr tem mostrado que se focar no público gay é um negócio viável. "Os homens inscritos no Grindr têm mostrado uma disposição inédita para gastar dentro do aplicativo, afirma Arison.

Hoje o app tem 13 milhões de usuários, dos quais cerca de 25% pagam por algum dos pacotes de assinatura, de acordo com dados divulgados no relatório Grindr Unwraped —que traz na capa a foto de um homem nu tampando a genitália com notas de dólares.

Esses números têm crescido desde que papéis da empresa começaram a ser negociados na Bolsa de Nova York em novembro de 2022.

As pessoas que navegam no aplicativo estão distribuídas "em virtualmente todos os países do mundo", incluindo os 60 países que criminalizam a homessexualidade, de acordo com Arison. Na página de relação com investidores, o app diz que trabalha para o público LGBTQIA+, mas seu material de divulgação no Brasil mostra a atenção maior à audiência masculina.

Como base de comparação, o Tinder tem 75,4 milhões de usuários ativos mensais, dos quais 10,4 milhões pagam por planos. No Bumble, são 58 milhões de usuários ativos, dos quais 2,4 milhões pagam. Essas empresas, contudo, têm tido dificuldade para converter esses números em resultados robustos.

Nesta terça (16), o Grindr ainda lançou um novo produto pago: o roaming. A inovação permite que usuários paguem para interagir com pessoas de outras cidades. "Não faz parte dos pacotes de assinatura, a pessoa terá de pagar para usar", diz Arison.

A ideia de desenvolver o recurso veio de pedidos dos usuários, segundo ele. O Tinder oferece uma opção parecida aos assinantes Platinum, que permite ver perfis de outros locais. No Grindr, outros usuários poderão curtir o perfil do assinante do novo serviço como se ele estivesse lá.

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