Mercado prevê BC mais conservador, com menor ritmo de corte de juros e pausa no radar

A avaliação de que o Banco Central adotará uma postura mais conservadora nos rumos da taxa básica de juros ganhou força no mercado financeiro nos últimos dias, com maior expectativa de desaceleração do ritmo de queda da Selic e pausa à frente no radar.

Entre os agentes econômicos, cresceu a aposta de que o Copom (Comitê de Política Monetária) não ficará preso ao compromisso de promover uma nova redução de 0,5 ponto percentual –conforme sinalizado em março– e vai diminuir o passo já no próximo encontro, nos dias 7 e 8 de maio, diante de uma conjuntura global e doméstica de maior incerteza.

Uma parcela do mercado passou a trabalhar com a perspectiva de um corte de 0,25 ponto percentual em maio, sobretudo após as declarações dadas pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, em uma reunião com investidores nos Estados Unidos.

No encontro, o chefe da autoridade monetária disse que toda prescrição tem um "disclaimer", ou seja, que a indicação é reavaliada em mudanças substanciais no cenário. Ele ainda traçou quatro caminhos para o futuro do ciclo de política monetária.

Segundo o presidente do BC, um cenário de incerteza elevada, mas sem mudança significativa no quadro, poderia significar uma desaceleração no ritmo de cortes de juros.

Para Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor adjunto da Georgetown University, a retirada do "forward guidance" (prescrição futura) foi uma decisão acertada. "Pressupõe um cenário básico com algum grau relevante de confiança, o que hoje não temos", diz.

Para o economista, o BC deveria trabalhar para "amortecer" a volatilidade do cenário. "Primeiro, deveria estar atuando no mercado de câmbio e, segundo, decidir que um movimento de queda da Selic seria contraproducente. Deveria fazer 0,25 [ponto percentual] de corte [em maio] e pausar o ciclo", afirma.

Volpon considera que o BC errou ao não ter aproveitado a janela de oportunidade aberta no fim de 2023 para flexibilizar mais os juros.

"Essa janela, claramente, se fechou. Se eles [membros do Copom] tivessem acelerado os cortes, já poderiam nessa situação sinalizar uma pausa. A gente estaria trabalhando com um piso de Selic menor", diz.

Para o ex-diretor, no atual cenário seria "extremamente imprudente" levar a taxa básica a um nível menor do que o piso de 9,5% ao ano. "Tem que cortar os juros quando pode, não quando quer. Faltou essa sensibilidade ao Banco Central", acrescenta.

Entre os fatores globais que provocaram o estresse do mercado nos últimos dias e fizeram o dólar escalar está a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos.

Na política doméstica, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterou a meta fiscal de 2025 para déficit zero, não mais superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto), conforme o PLDO (projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) do próximo ano.

A moeda americana chegou a bater R$ 5,287 e registrou cinco sessões consecutivas de fortes altas. Nos últimos dias, contudo, o dólar recuou e terminou a sessão de sexta-feira (19) cotado a R$ 5,199.

Se o dólar permanecer em um nível mais elevado até as vésperas do próximo Copom, Andrea Damico, economista-chefe da gestora Armor Capital, vai revisar o cenário para um corte de 0,25 ponto percentual. Por ora, ainda projeta uma redução de 0,5 ponto em maio.

Segundo ela, a taxa de câmbio é o melhor termômetro para relacionar o grau de incerteza e a política monetária, e o momento é de muita volatilidade.

"Se a reunião fosse hoje, seria um corte de 0,25 [ponto]. Agora, acho que o Banco Central precisaria ver uma depreciação razoável adicional para ser zero", diz.

Damico vê a possibilidade de o colegiado do BC seguir nesse compasso de menor ritmo por mais de um encontro. No entanto, pondera que "se o câmbio ficar estabilizado no patamar de R$ 5,30, a probabilidade de cortar 0,25 [p.p.] e parar [em junho] é muito grande."

Para a Selic voltar a um dígito –hoje está fixada em 10,75% ao ano–, a economista vê necessidade de um câmbio mais apreciado.

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