Mortes: Jornalista, foi guardião da memória de São Paulo

Em San Marco dei Cavoti, pequena aldeia medieval do sul da Itália, Angelo Iacocca divagou por dez anos sobre a vida a 9.000 km de distância dali, na cidade de São Paulo.

Em 1952, seu pai o deixara para construir uma nova vida em terras paulistanas. Angelo tinha cinco anos. Órfão de mãe, esteve com parentes até seu 15º aniversário, quando partiu para o Brasil.

Carregava cartões postais com imagens de arranha-céus. Gostaria de viver num deles, tão diferentes das casinhas de pedra do montanhoso interior europeu. A desilusão veio quando avistou o bairro onde viveria, naquela época não muito urbanizado: a Mooca.

Logo, arranjou emprego no centro da capital. Foi a concretização daquela fantasia de edifícios monumentais, nos arredores dos quais era pensada, construída e usufruída ao máximo a metrópole. Encantado, fez daquelas formas e corpos seu objeto de trabalho.

Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Angelo foi estudioso e guardião da cultura arquitetônica e sociológica de São Paulo.

"Ele radiografou a região central, tinha uma memória absurda", relata seu filho Thiago Iacocca. "Numa conversa com ele, você entendia toda a estrutura da cidade. Identificava perfis e o comportamento da população."

Condensou seu conhecimento em alguns livros, dentre eles "Conjunto Nacional: A Conquista da Paulista", "Avenida Paulista – 120 anos" e "Ponto Chic – Um Bar na História de São Paulo".

Teve ainda carreira sólida em jornais, como repórter. Iniciou na Gazeta Mercantil, em 1970, onde permaneceu por sete anos, passando em seguida pelo Aqui São Paulo. Ambos os veículos já foram fechados.

Escreveu, no mesmo período, para algumas revistas. Foi o caso da IstoÉ, na qual deixou brilhantes análises sobre música, outra de suas paixões.

Angelo foi casado por mais de cinco décadas com Valkiria Mazzucchelli Iacocca, curadora de arte celebrada, com quem teve, além de Thiago, outros dois filhos: Luciano e Thomas. Preocupou-se em transmitir a eles bagagem cultural, afeto e incontáveis histórias sobre suas andanças pelo município que o acolheu.

Também foi categórico em expor algumas vezes o desânimo em voltar à Itália. Lá, sua jornada estava resolvida. Aqui, havia encontrado um caminho e companhia para segui-lo feliz.

Angelo Iacocca morreu no último dia 13, aos 76 anos, após seis meses tratando uma doença. "Perdemos uma referência. Perdemos o almoço de domingo feito por ele, com massa fresca, muito molho e amor. É difícil", declara Thiago.

O que você está lendo é [Mortes: Jornalista, foi guardião da memória de São Paulo].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...