La Chimera ostenta talento de Rohrwacher em fantasia à Fellini

Enquanto Hollywood gasta energia em diretoras da mediocridade de uma Greta Gerwig como a salvação da lavoura feminina no cinema, a Europa já há tempos valoriza o trabalho de direção de mulheres verdadeiramente talentosas. A italiana Alice Rohrwacher, por exemplo, desde sua estreia, com "Corpo Celeste", de 2011, parece não só uma das grandes "cineastas mulheres" de nosso tempo como um dos maiores destaques de todo o cinema atual.

Sua obra tem enorme força sensorial, com imagens realistas e oníricas, que trazem elementos biográficos em um habilidoso equilíbrio com observações sociais —tanto em longas de verve mais memorialista, como "As Maravilhas", de 2014, quanto para filmes mais abertamente engajados, como o esplêndido "Feliz como Lázaro", de 2018.

Em seu novo longa, "La Chimera", ela leva seus rompantes barrocos ao paroxismo. Mas se, em geral ela costuma ser (nem sempre corretamente) apontada como uma discípula de Pier Paolo Pasolini, desta vez algo mudou, mais próxima da espetacularidade de um Federico Fellini.

O filme é constantemente invadido por personagens estranhos e algo grotescos; são todos dispensáveis à trama, isso é claro, mas é preciso reconhecer que reforçam positivamente o caráter delirante do longa. A diretora sabe o que faz.

Os toques de delírio estão na própria trama: um grupo de mercenários cavadores busca no subsolo toscano objetos da civilização etrusca para vender no mercado ilegal. O líder é Arthur, papel de Josh O’Connor, um arqueólogo inglês que, com poderes sobrenaturais, descobre onde importantes relíquias estão escondidas. Ele se envolve com Itália, vivida pela brasileira Carol Duarte, uma estudante de canto que faz as vezes de serva na villa da matriarca de uma família decadente, interpretada por Isabella Rossellini.

Com os cabelos encaracolados e os olhos sempre vivos, Carol se mostra um objeto cinematográfico valioso; mais que qualquer outro em cena, ela reluz - a diretora sabe explorar sua doçura e sua força cênica. Mas não sabemos quase nada sobre sua personagem – ou mesmo sobre a de Rossellini e o de O’Connor; são seres flutuantes que nunca de fato se enraizam na trama de Rohrwacher. O filme inteiro, aliás, dá a impressão de ele próprio estar sempre em levitação, talvez até à deriva – é uma obra singularmente fugidia, sempre escapando de qualquer possibilidade de rotulação ou aprisionamento. Talvez seja antes um fluxo de imagens do que propriamente um filme acabado.

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