Samu completa 20 anos como símbolo de êxito do SUS

Aliviado, apesar da situação, o aposentado José Roberto Dias, de 65 anos, assiste à sobrinha embarcar quase inconsciente a bordo de uma USA (Unidade de Suporte Avançado) do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), enquanto é cuidada por uma equipe com médica, enfermeiro e técnico-condutor. Foram eles que a retiraram com sinais vitais fracos do segundo andar da casa onde mora com os tios, na região central de Santo André.

"Toda profissão é honrada, mas o trabalho dos socorristas de emergência é muito nobre, conseguem dar um suporte a pacientes e familiares muitas vezes nos momentos mais vulneráveis", afirma Dias.

O comentário do aposentado é emblemático da percepção que a população tem do Samu, como é conhecido comumente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Uma pesquisa feita pelo Samu de São Paulo revelou que 90% dos moradores percebem positivamente o serviço que completou 20 anos neste sábado (27).

"Acho que a melhor parte do trabalho é poder confortar; salvar uma vida às vezes é difícil, o êxito nem sempre acontece, mas confortar um parente, uma família, é o principal", avalia Francis Fuji, de 45 anos, 16 deles dedicados ao cuidado pré-hospitalar. "Por pior que seja o desfecho, a família agradece porque a gente confortou, acolheu, e teve amor naquilo que fez."

Nascimento

O Samu nasceu oficialmente em 27 de abril de 2004, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto 5.055 que institui o serviço em municípios e regiões do território nacional. O número 192 foi estabelecido para acionar o serviço em todo o país.

O decreto universalizou o atendimento que já vinha sendo testado desde 2003, após a publicação, no ano anterior, da portaria ministerial 2.048, que determina regras de atuação, tais como equipamentos e protocolos a serem seguidos – decisões que, para os "pais" do Samu, não eram nada triviais à época.

"Quais equipamentos íamos colocar na ambulância? As mochilas vão ter quais medicações? O que vamos levar dentro de uma mochila do enfermeiro, dentro da mochila do médico?", exemplifica o coordenador do Samu de São Paulo, Laelcio Ramos.

Passadas duas décadas, o Samu alcança 187,2 milhões de pessoas em 3,9 mil municípios, segundo o Ministério da Saúde, o que equivale a cerca de 92% da população – graças a algumas mudanças feitas no modelo francês que serviu de referência na implementação do serviço, como, por exemplo, o uso de motocicletas no atendimento a partir de 2008.

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Em Sergipe, 85% dos atendimentos são feitos com as chamadas "motolâncias", com tempo de resposta de até dez minutos a partir de uma das 40 bases, segundo o superintendente do Samu no estado, Denison Pereira. "Em 1998, havia duas ambulâncias do Corpo de Bombeiros em todo o estado; hoje eles contam com cinco, enquanto o Samu utiliza 43 Unidades de Suporte Básico (USB) e 16 USA, além de quatro motos por base", acrescenta o enfermeiro.

Já "ambulanchas" são utilizadas em regiões como a Amazônia e partes do litoral fluminense para atender comunidades ribeirinhas e costeiras. Na capital amazonense, quatro lanchas dão suporte a comunidades rurais localizadas a até 100 quilômetros da cidade pelo rio Negro e rio Amazonas. "Nesta última estiagem tivemos de lidar com dezenas de comunidades isoladas, sendo impossível chegar até elas pela água", conta Ellen Assunção, enfermeira coordenadora do Samu de Manaus.

"Neste período, pegamos por exemplo um senhor vítima de infarto, que só foi salvo porque conseguimos um helicóptero emprestado para chegar até ele. Mesmo de lancha o deslocamento pode levar quatro horas, dificultando o socorro", conta.

Pandemia

Mas nenhum deslocamento foi mais desafiador, diz Assunção, do que as remoções de pacientes de covid-19 dos hospitais superlotados e com falta de oxigênio de Manaus para todo o Brasil. Com o colapso do sistema de saúde da capital amazonense, as autoridades fizeram a remoção de 248 pacientes para cidades como Recife, Goiânia e até Uberaba.

"Foi muito tenso porque usávamos todo aquele equipamento de proteção individual, com macacão, máscara, óculos, faceshield. A movimentação dentro da aeronave era ruim, chegar próximo do paciente e fazer os procedimentos com aquela roupa, naquele espaço pequeno, era um desafio", relembra Assunção.

Naquela ocasião, o governo federal custeou o deslocamento dos pacientes – um aporte financeiro comum ao Samu, que conta com cerca de R$ 1,94 bilhão anuais em verba federal para a distribuição por todo o país das viaturas (sendo 3.847 carros, 256 motos e 13 lanchas, além de 21 equipes de resgate aeromédico).

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