Mortes: Líder rural lutava contra desmatamento na Amazônia

Ao voltar para casa após o trabalho, em 2018, a líder rural Osvalinda Pereira encontrou duas covas com cruzes de madeira em seu quintal, no assentamento Areia 2, em Trairão (PA). Era mais uma ameaça após suas denúncias sobre extração ilegal de madeira na amazônia, que começaram em 2012.

Junto com o marido, entrou para o programa de proteção de testemunhas, no qual precisou passar boa parte do governo de Jair Bolsonaro (PL). Voltou para o estado porque sentia obrigação de ajudar as mulheres que sofrem no oeste do Pará.

À frente da associação de mulheres no Areia 2, a qual fundou e presidiu por quase 14 anos, criava projetos para ajudar as famílias. Conseguia capacitações e trabalhava com horta comunitária e criação de pequenos animais. Também ajudava na recuperação de florestas e nascentes.

"Ela funcionava como uma reguladora do pessoal. O que ela queria era que os agricultores tivessem um trabalho que tirasse eles daqueles análogos à escravidão que acontecem ali", afirma a coordenadora de projetos com ênfase em gênero do Instituto Maíra, Jéssica Holles, 31.

Osvalinda Maria Marcelino Alves Pereira nasceu em 1968. Mais nova de sete irmãos, contava que a mãe saiu de Alagoas com seis filhos andando a pé até o Paraná, onde ela nasceu. A família de agricultores tinha uma vida humilde e de muito trabalho.

Foi no Paraná que conheceu Daniel Alves Pereira, com quem se casou e teve duas filhas. A vida do casal foi de migração em busca de terras para trabalhar. Nos anos 1990, foram para Itanhangá (MT), onde ficaram até 2001, expulsos pela fumaça. De lá, saíram os dois de moto até Trairão.

Foram 16 dias de viagem em duas rodas até se instalarem no assentamento. Lá, se depararam com a exploração da floresta por madeireiros e a ocupação ilegal de lotes por fazendeiros.

Sua luta rendeu reconhecimento internacional. Em 2023, recebeu o Prêmio Edelstam da Suécia, que reconhece ativistas de todo o mundo. Mas, mesmo com prêmio e filme sobre sua vida, sempre passou muita necessidade.

"Como pessoa, ela era muito doce, gentil e muito solidária, mas muito sofrida. Eu nunca conheci uma mulher tão corajosa", diz Holles.

As queimadas afetaram sua respiração e teve problemas no coração. Precisou de cirurgia, mas o atendimento demorou quatro anos e deixou sequelas. Seu pulmão também foi afetado e estava havia um ano hospitalizada em Belém.

"Sempre foi de um coração gigantesco. Eu me lembro de algumas vezes que ela estava ruim de saúde e a preocupação dela era com as outras defensoras. A Osvalinda assumia a luta como uma tarefa às vezes mais importante do que a própria vida", afirma Daniel Faggiano, 38, diretor do Instituto Maíra.

Quando foi internada, disse que havia muito tempo não dormia uma noite inteira. Tinha que revezar com o marido para vigiar a casa durante as noites.

Morreu no dia 12 de abril. Deixa o marido, Daniel, e as filhas Fabiana e Franciele.

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