Chade vai às urnas na 1ª eleição em países africanos que viveram onda de golpes

A população do Chade, país produtor de petróleo no centro-norte da África, foi às urnas nesta segunda-feira (6) três anos depois de Mahamat Idriss Déby assumir o poder do pai, o ditador Idriss Déby, morto em 2023. Esta é a primeira eleição presidencial na região africana do Sahel desde uma onda de golpes de Estado.

Mahamat Déby votou cedo na capital, Ndjamena, e prometeu reforçar a segurança, fortalecer o Estado de Direito e aumentar a produção de energia elétrica do país, que convive com apagões.

"Hoje estou cumprindo um compromisso, que era concluir o processo de transição lançado em nosso país há três anos. Agora cabe ao povo votar maciçamente para escolher seu presidente", disse Déby em uma postagem no Facebook após sair do local de votação.

Déby pai tomou o poder depois de um golpe em 1990, que derrubou outro ditador, Hissène Habré. Em abril de 2023, ele venceu a sexta eleição consecutiva, amplamente contestada pela oposição e por grupos que lançaram uma ofensiva militar. Na sequência do pleito, Déby iniciou uma guerra contra os rebeldes e morreu em batalha dias depois.

Pela Constituição, quem deveria sucedê-lo nesses casos seria o chefe da Assembleia Nacional, mas não foi o que ocorreu. Em um processo visto como um novo golpe, um grupo de 15 generais criou um Conselho Militar de Transição, que dissolveu o Congresso e colocou Déby filho para liderar a nação por 18 meses, quando prometeu convocar eleições. O pleito, porém, só ocorre agora.

Analistas dizem que Déby filho é o favorito na disputa. O principal oponente é o primeiro-ministro, Succès Masra, um antigo opositor que estava no exílio e foi autorizado a voltar em 2023. Outros candidatos de oposição acusam Masra de ser um candidato de fachada, para favorecer Déby.

Cerca de 8,5 milhões de pessoas se registraram para votar. Resultados provisórios são esperados para dia 21 de maio, e a apuração final deve ser divulgada até 5 de junho. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, um segundo turno será realizado em 22 de junho.

Um eleitor em Ndjamena, Ahaya Khalil, disse que votaria em Déby porque ele havia prometido criar empregos. "Hoje é dia de votação, e graças a Deus viemos votar para o nosso presidente da República. Que Deus preserve ele e o nosso país", disse. "Esperamos que ele dê empregos para nossos filhos depois de ser eleito."

A votação coincide com a retirada temporária das tropas dos EUA, um importante aliado ocidental em uma região da África cortejada pela Rússia e assolada pelo extremismo islâmico. Desde que substituiu seu pai no comando do país, Déby permaneceu próximo da antiga potência colonial, a França.

O Chade permanece o último Estado do Sahel com uma presença militar francesa substancial. Mali, Burkina Fasso e Níger pediram a Paris e a outras potências ocidentais que se retirassem e se voltaram para Moscou em busca de apoio.

TEMORES DA OPOSIÇÃO

Além de Déby e Masra, concorrem o ex-primeiro-ministro Albert Pahimi Padacke e outros sete candidatos.

Yaya Dillo, um político opositor que deveria participar do pleito, foi baleado e morto em Ndjamena em 28 de fevereiro, quando a data da eleição foi anunciada.

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Alguns membros da oposição e grupos da sociedade civil pediram boicote, citando preocupações com possíveis fraudes eleitorais.

"Esta eleição presidencial é de capital importância para o país porque um povo inteiro aspira por mudanças", disse Baniara Yoyana, ex-ministra e magistrada. "O processo deve ser conduzido com transparência para evitar qualquer risco de confronto."

Alguns observadores não receberam suas credenciais antes da votação, e as autoridades não justificaram a recusa, disse a Aliança Cidadã para Eleições, plataforma que monitora o pleito.

GOLPES NA REGIÃO

Nos últimos cinco anos, seis países da região passaram por golpes de Estado, três deles com duas rodadas de sublevação. O movimento no Níger arruinou de vez a relação com franceses e americanos, que foram convidados a sair do país. A junta militar acabou determinando a expulsão das forças estrangeiras no mês passado. Os EUA estavam no Níger havia 11 anos.

Forças americanas já deixaram o Chade nas últimas semanas, e Paris teve seus militares expulsos também no Mali e em Burkina Fasso.

O choque indireto com os russos ocorre num momento tenso da relação entre as duas maiores potências nucleares do mundo, decorrente da invasão da Ucrânia em 2022.

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