Flow, como alcançar o êxtase no cotidiano

A palavra êxtase vem do grego ✅ékstasi, que significa se deslocar, ficar de lado. É essa a ideia de felicidade para os gregos: a sensação de tirar alguém de sua própria mente, de se permitir ir além de si mesmo, em bom português, se "desensimesmar".

A experiência de puro êxtase é chamada de flow, estado de fluxo, que acontece quando a mente humana consegue alcançar um foco único, proporcionando um prazer pleno na execução da tarefa presente.

Não é coisa exclusiva para monges budistas, todos nós conseguimos chegar ao estado de êxtase do foco total, desde que... tenhamos foco. Não precisa de muito, de altas meditações ou transes. Pelo contrário: precisa de menos. Menos distração, menos velocidade, menos dispersão.

Somos presas fáceis dos "usurpadores de atenção" da vida moderna e acelerada. Com tantos estímulos que chegam até nós, é inevitável cairmos na armadilha das "diversões vazias" que ocupam o tempo e não nos conectam a nada, a ninguém, e muito menos a nós mesmos.

Sou especialista em olhar para a pulga e não para o cachorro. Presto mais atenção nas tarjas que passeiam na parte inferior da tela dos telejornais (chyron) do que na voz do apresentador; vivo encontrando afazeres no trajeto quarto-cozinha até me esquecer a razão de ter ido até lá; nas reuniões facilmente me distraio observando mãos belas sobre a mesa; falo no celular, dirijo e penteio minhas sobrancelhas ao mesmo tempo.

Consciente disso, me desafiei a alcançar o gozo íntimo do prazer vivíssimo em alguns momentos do cotidiano, e escolhi o momento presente para vivenciar o referido prazer ao escrever essa coluna.

Concentração máxima. Segui todas as recomendações: silenciei as notificações do celular, fechei a porta do escritório, proibi as pessoas de me interromperem e me acomodei confortavelmente.

Me empenhei para eliminar qualquer distração ou barreira que me tirasse do momento presente, com o objetivo de alcançar uma imersão completa na atividade da escrita.

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Foi como tentar dormir numa noite de insônia, quanto mais tentava não pensar em outras coisas, mais eu me dispersava. Quanto menos eu podia pensar no elefante rosa, mais ele aparecia na minha frente.

Não desisti. Me lembrei da história que o pai do flow, o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, contou a respeito de seu irmão mais velho, que passou sete anos em uma prisão na Sibéria depois da Segunda Guerra. Para não desmoronar emocionalmente, ele usou a técnica de se concentrar alguns minutos por dia nas pequenas coisas: "Ele conseguia passar 10, 15 minutos olhando um raio de sol na parede". Esse estado de fluxo, segundo Csikszentmihalyi, foi a sua grande salvação.

Mas eu ainda não conseguia enxergar o meu raio de sol e estava encarcerada no meu esforço para chegar à concentração máxima. Respirei fundo. Mentalizei: eu consigo. Dessa vez vai. Escrevi o título da coluna, já me preparando para o ápice do prazer. Logo me voltou à cabeça o Csikszentmihalyi, que contou que quando ele se envolvia nesse processo arrebatador, não sobrava atenção para sentir o seu corpo ou se preocupar com problemas pessoais. Era como seu corpo desaparecesse, não sentia fome nem cansaço. A existência era temporariamente suspensa.

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