Justiça não é linchamento: que a lei resolva nossos ódios

Não entendo nada de política internacional. Para isso, vou para os textos do Jamil Chade ou ouço minha amiga Mila Burns. Portanto, o Ivan Lins, aqui, não vem por causa do saldo catastrófico da gestão Bolsonaro nas relações com a China e nem por qualquer comentário sobre as falas do presidente a respeito da guerra da Ucrânia. O verso ao qual estou agarrada, tal qual Chris Martin ao Brasil, tem a ver com futuro.

E o futuro de 2023 tem chegado dançando. A novela da Rosane Svartman, por exemplo, com um elenco que, pela primeira vez, representa, na TV aberta, a diversidade do país que, infelizmente, não aparece nesse fim de BBB. Ou a luta de advogadas como Mayra Cotta, que vem brigando por leis que protejam mulheres de assédio, abuso e usurpação de crédito em ambientes de trabalho. Ou a nova cobertura da imprensa sobre os ataques a escolas.

Também tenho me surpreendido positivamente com o tanto de gente que saiu do Twitter por não assinar embaixo do "comigo não tá" do bilionário Elon Musk . Isso sem falar no futebol do Fluminense, nos livros da Carla Madeira, na peça do Los Hermanos. Às vezes, a vida acerta na trilha sonora e bate um vento que dá vontade de acompanhar.

Por isso Ivan Lins e Vitor Martins e a frase que transcrevo a seguir. "Pra que a nossa esperança seja mais que vingança". Não que eu não seja vingativa. Sou, infelizmente. Meu cérebro não pode com injustiça e já celebrei muita derrota do Moro e muitas prisões de banqueiros, desculpa aí.

Também sou contra qualquer anistia e quero o ex-presidente e sua corja pagando por seus crimes, assim como espero responsabilização para ladrões, racistas, assassinos, pedófilos, estupradores, transfóbicos e assediadores.

Acontece que justiça não tem nada a ver com linchamento. Ao contrário. Não são poucas as vezes em que, redimidas pelo cancelamento de alguns, estruturas e instituições seguem agindo como sempre agiram, reafirmando, ainda hoje, o mesmo preconceito de gênero e de raça que torna intocáveis figuras em situações de poder. De síndicos a empresários.

Troféus de personagens cancelados só servem para decorar paredes e lacrar em redes sociais. Para que a sociedade se mova em direção a um mundo em que homens e mulheres; pretos e brancos; e pobres e ricos sejam igualmente respeitados em seus direitos é preciso que a gente deixe os ódios (como o que agora sinto pela moradora de São Conrado) aos cuidados das leis.

Até porque, ao escolhermos dois ou três sujeitos para dar cartão vermelho, estamos tirando do jogo um Maracanã de racistas e assediadores, nos quais deveríamos prestar atenção. Porque, às vezes, estamos entre eles.

Obrigada, Ivan Lins!

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