Kenya Sade diz que não acreditava mais no amor quando conheceu pintora

Rafaela Polo

de Universa, em São Paulo

No final de maio, Kenya Sade deu a seguinte entrevista a 💥️Universa:

💥️Universa: Como começou a carreira na TV?
💥️Kenya Sade: Com um estágio na TV Cultura. Ali me apaixonei por televisão. Fiquei lá por 2 anos e saí para fazer um intercâmbio na Europa. Na França, conheci um programador da Trace, uma das maiores plataformas de cultura afrourbana do mundo. Então fui convidada para participar da implementação do canal no Brasil. Comecei em 2023 como curadora musical. Era apresentadora de um programa que estava na grade do Multishow. Depois fui chamada para fazer um teste para a Globo e passei. A emissora estava em busca de diversidade.

💥️A paixão pela música nasceu com o trabalho na Trace?
Durante a faculdade de jornalismo, achei que não existia a possibilidade de trabalhar com música. Mas a Trace me deu a oportunidade de mostrar esse talento. Sempre fui curiosa. Nós, jornalistas, podemos falar de tudo. E eu queria falar de música.

💥️Já ficou nervosa entrevistando artistas?
Muitos me perguntam isso achando que vou mencionar algum artista internacional. Mas o que mais me deixou tensa até hoje foi a cobertura do "Viva Salvador", com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo e Luedji Luna. É impossível não tremer na base com Gil e Caetano em Salvador. Minha perna estava literalmente bamba antes de entrar ao vivo. Mas consegui entregar o trabalho.

💥️Você se vê como uma referência para jovens negros que sonham em trabalhar com música na TV?
Sim. E isso, para mim, é uma grande responsabilidade. Sou filha dos anos 1990, cresci com poucas referências na televisão. Só colocavam pessoas pretas no lugar de subalternidade, de subserviência ou, no humor, de forma jocosa. Nunca me via representada naqueles papéis. A Glória Maria foi a primeira pessoa que me fez pensar que o caminho era possível.

Várias mulheres e meninas do Brasil me veem como essa possibilidade. Oportunidades geram novas possibilidades de existência. Já conseguimos atingir espaços com atrizes, atores e cantores negros. No entanto, no entretenimento, você não vê tantas pessoas pretas. Estou construindo a história de ser uma mulher negra de pele retinta falando de música.

Kenya Sade é referência no jornalismo musical  - Vitor Manon - Vitor Manon

Minha família é respeitosa, mas não fala sobre o assunto. É um silêncio sepulcral. Todo mundo faz fofoca sobre outros casais, exceto sobre minha esposa e mim. Isso também é homofobia, porque nos invisibiliza.

💥️Acredita que a sociedade está mais preparada para casais lgbtqiapn+?
Está sendo mais impactada por essa realidade. Os casamentos homoafetivos no Brasil duplicaram. Antes, tinha medo de sair de mãos dadas na rua com a Thamyres. Tinha medo de levar paulada, de que grupos supremacistas e lgbtfóbicos nos atacassem. Hoje tenho menos, mas o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas lgbtqiapn+. Esse dado é muito forte.

Porém, fala-se mais sobre o tema, há casais nas novelas. Hoje, quando posto uma foto com declaração para Thamyres, sinto que as pessoas se identificam no amor. Não dá para ser lgbtfóbico e racista em 2023. Sinto que avançamos.

💥️Como esses preconceitos aparecem no seu cotidiano?
O racismo acontece no subliminar. Um estádio inteiro gritando 'macaco' para o Vinícius Jr. comove porque é escancarado. Mas o das entrelinhas está no nosso cotidiano. O Brasil é um dos países mais racistas do mundo. Já sofri racismo no trabalho, por impressionar demais. Já ouvi 'Nossa, como você é inteligente' ou 'Você fala inglês bem mesmo'. De onde vem essa surpresa?

É da construção racial, por não enxergarem pessoas pretas como intelectuais. Uma pessoa branca jamais ouviria isso. Já aconteceu de eu estar no avião, e sou classe diamante porque viajo muito, e a aeromoça perguntar se aquele era realmente meu lugar. Para qualquer criança preta, a escola foi um pesadelo. Pois falam do tamanho da sua boca, dos nossos traços negróides, do tamanho do nariz, do cabelo e da cor da pele. Somos impactados pelo racismo diretamente desde a nossa infância e isso nos desumaniza.

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