Descobri meu câncer de mama quando acompanhava o tratamento da minha mãe VivaBem

'Descobri meu câncer de mama quando acompanhava o tratamento da minha mãe' Arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para VivaBem

30/07/2023 04h00

De início, é claro, Magida ficou bastante preocupada. Ainda não sabia a gravidade da doença e, principalmente, se havia metástase —quando o câncer se espalha para outros órgãos além do inicial. Mas, com o passar dos exames e novos resultados, constatou-se que não estava avançado e surgiu um respiro . Ela acreditava que, mesmo sendo difícil, a medicina daria um jeito, com ajuda superior.

Assim, de apoiadora da mãe nas quimioterapias, foi a vez de a filha precisar de Rosecler para enfrentar o que estava por vir. A matriarca conhecia bem o caminho, já que tinha enfrentado o câncer de mama duas vezes, em momentos diferentes da vida.

O primeiro diagnóstico foi em 2012, aos 59 anos. Foi descoberto no acompanhamento rotineiro com a ginecologista e confirmado por biópsia —um tumor não invasivo na mama esquerda. O tratamento envolveu cirurgia com radioterapia (pouco mais de 30 sessões) e hormonioterapia por cinco anos.

Já a segunda descoberta veio nove anos depois, durante o banho. A empresária sentiu um caroço duro e dolorido, e logo ligou para a mastologista. O último exame de rastreio havia sido feito há apenas quatro meses, mas a mamografia não captou os três focos, novamente na mama esquerda.

Dessa vez, o tratamento foi diferente: uma mastectomia total da mama com reconstrução e colocação de próteses, e mais quatro sessões de quimioterapia feitas a cada 21 dias. Agora, Rosecler segue com a hormonoterapia.

💥️"O chão se abriu"

Apesar de datas, contextos e tratamentos diferentes, o choque do diagnóstico foi inevitável em ambas ocasiões. Na primeira vez, a surpresa maior foi por não haver nenhum caso na família até então. Na outra, por ter de reviver tudo, quase uma década depois e com idade mais avançada.

"O chão se abriu ao saber que eu ia passar por tudo isso. Depois, quando estava terminando o tratamento, achando que as coisas iam se acalmar e a baixar a maré, o diagnóstico da minha filha veio com força. Acabamos encarando todo o problema de novo. Foi um baque atrás do outro, mas estamos firmes e fortes", desabafa a mãe.

Mesmo após o fim do tratamento, ela garante que ainda não se recuperou totalmente, sobretudo emocionalmente. Segue sofrendo com efeitos colaterais e sendo medicada para crises de pânico e dificuldade para dormir. Afinal, sente como se um rolo compressor tivesse atravessado a vida de sua família.

💥️Cuidados da filha

Magida e Rosecler - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Desde a primeira ocorrência com a mãe, Magida não descuidou dos exames preventivos anuais, sobretudo por pensar que ela também poderia desenvolver a doença algum dia, o que realmente aconteceu. Ela só não esperava que seria acometida tão cedo, antes do cinquentenário, ainda em pré-menopausa.

Para seu tratamento, finalizado ano passado, a conduta incluiu 16 sessões de quimioterapias, divididas em brancas e vermelhas. Um mês depois veio a cirurgia, com mastectomia total e reconstrução com prótese, e em outro mês, 28 sessões de radioterapia. Atualmente, ela está na fase na hormonioterapia, assim como a mãe Rosecler.

Exames genéticos realizados por Magida já apontaram que o caso delas não é considerado hereditário.

💥️Raio-X do câncer

💥️O que é: "Uma 'desagregação' de uma célula única ou de um grupo de células. Ou seja, passam a agir como rebeldes dentro de um determinado órgão ou tecido. Em seu início, é como se o câncer fosse uma 'rebelião'", responde o especialista Luis Eduardo Werneck, vice-presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Cancerologia).

💥️Por que pode surgir: segundo a oncologista Thaiana Aragão Santan, especialista em avaliação de risco de câncer hereditário, do Grupo Oncoclínicas, de Aracaju (SE), há duas classificações:

💥️Câncer esporádico: consequência da exposição a fatores ambientais durante a vida, como cigarro, infecções virais, consumo de álcool, entre outros;

💥️Câncer hereditário: independe da exposição acima, pois acontece devido ao gene modificado adquirido desde o nascimento.

"O câncer hereditário é aquele causado por um gene do DNA modificado, que chamamos de mutação genética. É importante ressaltar que o que é herdado de pais para filho não é o câncer em si, mas a mutação genética, que é responsável pelo maior risco de desenvolver a neoplasia", pondera Santan.

Todas as gerações vão desenvolver? Não, necessariamente. Algumas mutações genéticas podem passar despercebidas por determinadas gerações, ou seja, sem manifestar cânceres.

💥️Oncogenética pode ajudar

Com promissora expansão, essa área da medicina estuda os cânceres hereditários e as mutações genéticas, buscando relações com manifestações e síndromes.

As mais comuns, atualmente, são: síndrome de câncer de mama, ovário, pâncreas e próstata; síndrome de câncer colorretal e endométrio; e a síndrome de Li Fraumeni, que engloba mamas, cérebro e sarcomas.

Outro detalhe: mesmo que o pai e a mãe tiverem câncer, ainda não há uma certeza de que pelo menos um dos filhos terá o diagnóstico posteriormente. Aliás, pode ser que nenhum desenvolva a doença. A oncogenética, embora não possa dar certeza, deve ajudar nessas probabilidades.

"A história familiar de câncer traz informações importantes sobre a possibilidade de estarmos diante de uma família com predisposição hereditária. Alguns sinais de alerta norteiam os médicos para a solicitação de testes genéticos que podem identificar maiores chances de desenvolvimento de câncer, como o acometimento em pessoas com menos de 50 anos, a repetição do mesmo tipo de câncer em vários familiares e tumores raros", explica o oncogeneticista Rodrigo Guindalini.

Assim, a partir desses sinais de alerta, são feitos testes de sequenciamento de DNA para buscar mutações nos genes que correspondam à predisposição. Porém, mesmo que apontem um maior risco, não significa que a pessoa ficará doente.

💥️Falando de câncer de mama

Para entender mais especificamente o caso de Magida e Rosecler, mãe e filha, o mastologista Alexandre Pupo, responsável pelo Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), faz as seguintes considerações:

O câncer de mama é bastante estudado quanto à hereditariedade, porque há famílias com grande concentração da doença;

Cerca de 10% dos cânceres de mama são hereditários, enquanto os outros 90% deverão ser aleatórios;

Esse diagnóstico é muito mais comum em mulheres. Apenas 1% dos acometidos são homens;

Há 50% de probabilidade de os filhos herdarem alterações genéticas dos pais, mas esse gene, por si só, não causa o câncer —só aumenta o risco;

Apesar de a principal incidência do câncer de mama ser em mulheres de 55 a 65 anos, no Brasil, 25% da população feminina pode receber o diagnóstico antes dos 50 anos.

"O câncer de mama é uma doença altamente curável, desde que identificada precocemente. A cirurgia com a extirpação é o principal tratamento que temos disponível. Fora isso, temos a radioterapia, a quimioterapia clássica, os tratamentos hormonais e as terapias imunológicas", esclarece Pupo.

É por isso que realizar o rastreio é superimportante. Ginecologistas e mastologistas podem orientar e solicitar exames aos pacientes.

💥️Fontes: Thaiana Aragão Santan, oncologista clínica no Grupo Oncoclínicas, em Aracaju (SE), mestre em -ncologia pela Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP), pós-graduada em pesquisa clínica pela Harvard Medical School (EUA), e especialista em avaliação de risco de câncer hereditário pelo H. City of Hope (EUA); 💥️Luis Eduardo Werneck, pós-doutor em ciências médicas e oncologia, diretor clínico da Rede Oncológica do Brasil (atuação no Amazonas e Pará) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia; 💥️Alexandre Pupo Nogueira, mastologista e membro titular do Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio-Libanês (SP); e 💥️Rodrigo Guindalini, oncologista, oncogeneticista e membro do Comitê de Oncogenética e Oncogenômica da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).

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