Cientistas da USP desenvolvem pão e salsicha com farinha de larva de mosca VivaBem

Pesquisadores da FZEA. Da esquerda para direita: Marco Antonio Trindade, Letícia Aline Gonçalves, Vanessa Aparecida Cruz e Alessandra Lopes de Oliveira - Luiz Prado/Jornal da USP

Luiz Prado

Do Jornal da USP

06/08/2023 15h15

Dois estudos vêm sendo realizados em conjunto, utilizando larvas da mosca-soldado-negra (✅Hermetia illucens), conhecida em inglês pela sigla BSF (Black Soldier Fly), espécie que já é usada como fonte de proteína na produção de ração para animais, tanto no Brasil quanto no exterior.

💥️O que é a mosca-soldado-negra e quais seriam suas vantagens?

farinha - Luiz Prado/Jornal da USP - Luiz Prado/Jornal da USP

Farinha desengordurada, pães e salsichas produzidas nos laboratórios da FZEA

💥️Alto valor proteico

Trindade explica que os pesquisadores escolheram iniciar os trabalhos com a incorporação da farinha em salsicha dada a alta aceitação desses produtos no país.

💥️Além disso, no pão, a farinha de larva de mosca, em substituição à farinha convencional, teria o apelo do enriquecimento do alimento com proteína.

Isso porque, segundo o estudo, a farinha apresenta valores nutricionais e características que chamam a atenção:

💥️Alto teor de proteínas quando comparada com leguminosas: mais de 30% contra 23,5% do feijão e 26,7% da lentilha;

💥️Melhor digestibilidade do que algumas proteínas vegetais e animais, o que ajudaria na saúde intestinal.

O projeto de Vanessa Aparecida Cruz, orientado pela professora Alessandra Lopes de Oliveira, inclui o uso dessa farinha desengordurada na formulação de pães. Agora, o próximo passo das pesquisas é testar possíveis reações alérgicas à farinha.

A maior preocupação é com a disponibilidade nutricional para uma população que está em crescimento. Pode não haver carne suficiente para todos, com o aumento populacional. Nossa função, como pesquisadores, é a segurança alimentar. Se faltar carne e houver necessidade de outras fontes proteicas, nossas pesquisas irão contribuir. Achamos que um dia faltará alimentos e estamos dando um passo à frente. 💥️Alessandra Lopes de Oliveira.

💥️É permitido comer farinha da larva?

Desde novembro de 2023, a farinha da larva da ✅Hermetia illucens está liberada no Brasil para uso na alimentação animal, graças à instrução normativa 110 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

💥️Sua inclusão na alimentação humana, porém, ainda aguarda discussões e regulamentações.

O debate sobre o uso de insetos na alimentação humana é internacional. Na União Europeia, vários pedidos para autorizar a produção vêm sendo solicitados, incluindo, além da larva da mosca-soldado-negra, larvas de ✅Alphitobius diaperinus (tenebrião-pequeno), ✅Gryllodes sigillatus (grilo-raiado), ✅Acheta domesticus (grilo-doméstico) e ✅Locusta migratoria (gafanhoto-migrador).

Em 2023, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar liberou o consumo do besouro tenébrio (✅Tenebrio molitor).

💥️Por que os países querem incluir insetos na alimentação?

💥️A procura pela inclusão de insetos no cardápio se apoia em prognósticos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) de que eles terão papel central para lidar com as previsões de insegurança alimentar, aumento dos custos da produção de proteína animal, crescimento demográfico e demandas ambientais.

Segundo a ONU, a população mundial deverá atingir em 2050 o número de 9,7 bilhões de habitantes, com um aumento correspondente na demanda por proteína animal de 68%. Isso levaria, por sua vez, a um incremento na produção de alimentos para rebanhos de 70%.

💥️Nesse cenário, a aposta é que os insetos, como a mosca-soldado-negra, possam se tornar novas fontes de proteínas, tanto para animais quanto para humanos, com custos de produção mais baixos e diminuição dos impactos ambientais.

Menor emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, menor área destinada à criação, menor consumo de água e reutilização de resíduos em sua produção são algumas das vantagens apontadas pelos especialistas.

💥️Entenda o método de extração de óleo aplicado nos estudos

No estudo, as larvas foram recebidas de uma empresa que já cria os insetos para ração animal. O manejo e o abate das larvas foram feitos seguindo orientações dos pesquisadores da FZEA, respeitando normas de boas práticas de fabricação e segurança de alimentos.

Na pesquisa de Vanessa Cruz, a extração do óleo das larvas de mosca-soldado-negra foi feita utilizando-se dióxido de carbono (CO²) em estado supercrítico (sc-CO², estado atingido a certa temperatura e pressão).

O método é sustentável e elimina o uso de hexano, um solvente tóxico normalmente usado na extração de óleos, que é não renovável, derivado do petróleo e deixa resíduos no produto. Daí o interesse na alternativa do CO².

Além desse estudo que otimizou o processo de extração do óleo, o projeto de Vanessa inclui o uso dessa farinha desengordurada na formulação de pães.

O óleo da larva da mosca-soldado-negra obtido nesse processo pode ser aplicado na indústria de cosméticos, enquanto a farinha apresenta valores nutricionais que chamam a atenção.

As pesquisas nos laboratórios de Tecnologia de Alta Pressão e Produtos Naturais, de Qualidade e Estabilidade de Carnes e Produtos Cárneos e de Processamento de Pães e Massas da FZEA integram um projeto aprovado pela Fapesp.

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