'Fomos chamados de bestas'; algodão orgânico da PB chama atenção da ONU

No coração do agreste paraibano, um grande galpão em ruínas é o monumento à memória de um tempo em que algodão era sinônimo de esperança para incontáveis famílias de pequenos agricultores de Ingá (PB).

Erguido na década de 1930, o edifício pertenceu à multinacional Anderson Clayton e foi equipado com máquinas muito modernas para a época.

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O prédio era o resultado maior de uma política do governo estadual que pretendia transformar o município, localizado entre a capital João Pessoa e a cidade de Campina Grande, em um exemplo de progresso.

Afinal, o algodoeiro tende a prosperar em climas áridos e lá havia muita terra disponível. A ideia teve êxito durante quase duas décadas e a localidade chegou a se tornar na segunda maior produtora de algodão da Paraíba.

No entanto, quando a empresa americana decidiu deixar o lugar nos anos 1950 por conta da desvalorização do "ouro branco" em relação a fios sintéticos, a pequena cidade de 18 mil habitantes era completamente dependente da companhia e começou a atravessar um período de lenta decadência.

Antigo galpão da multinacional Anderson Clayton, que foi abandonado em 1950 - Mateus Campos/ysoke - Mateus Campos/UOL

Traumatizados pela praga, os lavradores apresentaram muita resistência quando prefeitura, governo do estado e a iniciativa privada decidiram incentivar o retorno do cultivo do produto às terras de Ingá em 2023.

"Fomos chamados de malucos e de bestas, ninguém acreditava na gente. Com o nosso avanço de um ano para outro, eles viram que o algodão é o caminho mais próspero para a vida dos agricultores.", diz Severino Vicente da Silva, conhecido como Biu, da cooperativa de produtores de algodão de Ingá (Itacoop)

Sou do tempo em que algodão era o meio de vida do povo. Em 1983, o bicudo veio e levou tudo que a gente tinha, nossa dignidade, nossos filhos. Ficamos só com milho e feijão. Ficamos na pior.

💥️Biu, agricultor

O agricultor Severino Vicente - Divulgação - Divulgação Segundo a cooperativa, são 1200 quilos por hectare plantado de algodão orgânico - Divulgação - Divulgação

A passarela foi montada em meio a um campo de algodão num fim de tarde cinematográfico. Depois dos modelos que apresentaram peças de refinado nível técnico, foi a vez dos agricultores caminharem por ela. Os aplausos empolgados foram a senha para que o velho agricultor fosse às lágrimas.

Algodão orgânico retornou a região após uma praga acabar com o plantio em Ingá - Divulgação - Divulgação

"Pessoas que estavam desempregadas hoje são cooperativadas e foram empoderadas. Estamos trabalhando para acabar com a tradição de que a prefeitura seja o maior empregador do município. É por isso que acredito em associação e cooperação. Se não houvesse união entre o poder público, o poder privado e os trabalhadores, esse programa não acontecia. Assim, a economia local começa a girar e a população se torna independente."

* O repórter viajou a convite da Cooperativa de produtores de algodão do Ingá

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