Mexendo em casa de abelha: repórteres relatam riscos de cobrir a Amazônia

"Meninos, eu vi!", expressão do poeta Gonçalves Dias que já integrou até bordão de novela, é uma máxima conhecida e usada no meio jornalístico. Quem vai a campo fazer reportagens, entrevista e testemunha fatos para depois reportar aos demais o que viu. E ouviu. Nesta matéria aqui, emprestamos o verso do maranhense para antecipar algumas conversas que tivemos com quem, há anos, não só conhece e relata a Amazônia, mas vivencia - com o corpo todo - as violências da região.

Segundo o grupo ambientalista Global Witness, aconteceram 20 assassinatos de ativistas ambientais no Brasil só em 2023. No ano passado, as mortes do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira foram, segundo o repórter Daniel Camargos, "um pesadelo que virou realidade" para quem - como ele - com frequência cobre o que se passa nos territórios amazônicos.

daniel camargos - João Laet/Repórter Brasil - João Laet/Repórter Brasil

Atualmente, a maior parte das agências de notícias e veículos que atuam na Amazônia têm protocolos severos de segurança. São formulários longos, com minúcias da viagem, e aparelhos que auxiliam no monitoramento enquanto a equipe está em campo. Para além disso, existe todo um cuidado com relação à proteção das fontes, com quem lhes concede as entrevistas e vive na zona de perigo: "Eu vou embora, a pessoa fica lá, não posso colocá-la em risco", ressalta Daniel.

Quando perguntado se algo mudou no seu trabalho depois do que aconteceu com seu colega, ele diz: "Eu até falo que, agora, sou uma pessoa que constantemente frustra a equipe. 'Não, daqui a gente não passa', eu digo. 'Vamos perder? Vamos perder, para contar outra depois'."

Daniel e Raoni - Fernando Martinho/Repórter Brasil - Fernando Martinho/Repórter Brasil Lúcio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal Lucio - Francisco Ucha - Francisco Ucha grilagem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal cemitério manaus - Michael Dantas/AFP - Michael Dantas/AFP yanomami - Michael Dantas/AFP - Michael Dantas/AFP yanomami - Pablo Albarenga/Sumaúma - Pablo Albarenga/Sumaúma A repórter Talita Bedinelli com moradores da aldeia Demini, na Terra Indigena Yanomami, durante preparação para uma pescaria coletiva com veneno de timbó, em agosto de 2022

Sumaúma vem sendo um dos destaques na cobertura na Amazônia. Idealizada por Eliane Brum, que vive em Altamira, no Pará, desde 2017, a plataforma trilíngue conta com uma equipe experiente e conhecedora da região. Além de financiamentos internacionais, tem colaboradores ativos: "eles são uma espécie de ombudsman para nós. Para além do apoio financeiro, nos reunimos para discutir as edições. Agora, por exemplo, teremos um encontro para trocar sobre as reportagens que fizemos dos Yanomami".

Com o intuito de existir para dar voz às pessoas que estão na floresta, a Sumaúma "é um veículo que está baseado na Amazônia e com um olhar global", explica Talita. "Conta com uma rede de freelancers importantes e que quer crescer esse ano contratando mais gente através de um programa, uma espécie de laboratório, uma co-formação com profissionais da área de comunicação e, também, formando jornalistas da floresta, pessoas que vivem nas comunidades, como os ribeirinhos e os indígenas. Acreditamos que o jornalismo tem de estar no centro de onde está a vida, e a Amazônia é essa vida", conclui.

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