Cúpula da Amazônia começa hoje e precisa ir além do para inglês ver

Esse número estará diante dos olhos dos presidentes dos demais países que compartilham o bioma Amazônia: Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Suriname e Guiana. E sobre eles estará o olhar atento e apreensivo do mundo, que espera desse Encontro propostas para reduzir a devastação e enfrentar a crise climática.

A importância desse evento é evidente, assim como é evidente a responsabilidade dos governos que nele estarão.

Os povos da Amazônia enfrentam décadas de extermínio sistemático. A violência espalhou-se na região como um incêndio de proporções apocalípticas, extinguindo vidas, queimando as leis e os princípios universais dos Direitos Humanos, desfazendo os laços sociais, tentando calar a ciência e eliminando qualquer racionalidade econômica na brutalidade do saque e do tráfico. A devastação é física e simbólica.

Existe um resultado visível da grilagem, da exploração madeireira, do garimpo e da expansão indiscriminada da pecuária e da soja: rios poluídos, desertificação, escassez, fumaça, e os extremos de seca e calor poucos meses depois das grandes enchentes.

Mas há também uma tragédia invisível: a desesperança e depressão na floresta e nas periferias urbanas.

Pesquisas recentes mostram que a juventude da Amazônia é a mais pessimista do país. Os jovens não veem perspectivas sequer de conseguir um emprego para melhorar de vida e ter sonhos. E os sonhos que se oferecem nas cidades cada vez mais inchadas e violentas são os delírios da idolatria do dinheiro, que desconhecem qualquer respeito à natureza.

A Cúpula da Amazônia deve lançar luz sobre essa encruzilhada civilizatória. Nossos países devem dizer, a si mesmos e ao mundo, o que vão fazer com a maior e mais rica floresta do planeta. Devem sair do palavreado populista e manter um diálogo de alto nível e com a profundidade necessária para dar respostas à crise climática.

Há condições para que esse diálogo seja produtivo e tenha consequências práticas. A primeira delas é que os governantes escutem as pessoas, movimentos, a comunidade cientifica e organizações sociais que representam a diversidade social, étnica, cultural, política, científica e econômica da região.

A segunda é que os compromissos que venham a ser assumidos pelos governos sejam para atender às populações, não para favorecer, mais uma vez, aos interesses das empresas e dos latifundiários causadores da devastação.

A terceira é de que não sejam "para inglês ver"—como diz a antiga expressão popular. Chega de repetir ensaios de geopolítica colonial, precisamos de garantias de resultados.

Esse diálogo não começa "do zero". Existem muitas propostas de políticas públicas amadurecidas, fruto de décadas de luta social e de implementação de projetos, por parte dos Povos Indígenas, movimentos sociais, comunidade científica, organizações ambientalistas e até de empresas e governos.

Já sabemos o que dá bons resultados. Primeiro, combater crimes ambientais: desmatamento, queimadas, tráfico e invasão de terras públicas.

Segundo, demarcar as Terras Indígenas e criar áreas de preservação ambiental. Terceiro, promover o desenvolvimento humano: serviços de qualidade em saúde e educação, valorização dos saberes dos povos originários, apoio à pesquisa, ciência e tecnologia.

E, sobretudo, mudar o modelo de desenvolvimento, buscando a sustentabilidade. Aumentar a exigência de conformidade ambiental da produção agropecuária e madeireira. Criar uma nova infraestrutura voltada para viabilizar o desenvolvimento sustentável e não para facilitar a "penetração" da devastação.

Também a sociedade, em todos os seus setores, especialmente nas grandes cidades, precisa ser alertada para a necessidade de desvencilhar-se do frenesi de um consumo acelerado e irresponsável e de mudar o relacionamento entre as pessoas e comunidades, bem como o relacionamento com a natureza.

Nessa mudança cultural está o nosso caminho para o futuro. Não nos faltam exemplos de homens e mulheres que deram suas vidas para defender a vida de todos. Neste caminho permanecemos nós, brasileiros e brasileiras de diferentes tradições e gerações, unidos pela proteção das florestas e por um sentimento que é central em todas as filosofias, espiritualidades e cosmogonias: o amor por todos os povos e todas as espécies vivas.

Acreditamos que é possível praticar esse amor universal, construindo no diálogo uma agenda de compromissos para o futuro da Amazônia e do mundo.

A Cúpula da Amazônia pode ser uma luz nesse caminho. Por isso, apelamos aos governantes e lideranças sociais reunidos em Belém para que acolham na alma e na consciência a oportunidade e a responsabilidade de manter acesa a luz dessa esperança.

*Carlos Nobre - Coordenador do Painel Científico da Amazônia

*Kleber Karipuna - Coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB

*Pastora Romi Bencke - Coordenadora da Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC

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