De roupa, somos atropelados: Protesto mobiliza 100 ciclistas nus no RJ

Mais de cem ciclistas completamente nus (ou quase) desfilaram por áreas lotadas da zona sul do Rio de Janeiro em pleno final de expediente de sexta-feira (17), a última do verão.

No percurso, que foi do centro à praia Vermelha, na Urca, os ciclistas entoaram palavras de ordem: "Mais amor, menos motor", "Mais adrenalina, menos gasolina" e "Matar ciclista não é acidente". Sinetas acompanhavam fazendo barulho ensurdecedor e, da calçada, a galera do happy hour respondia com gritos, aplausos, olhares de espanto e perplexidade.

Manifestação acontece para chamar atenção para o alto índice de atropelamento de ciclistas - Matias Maxx/ysoke - Matias Maxx/UOL

'Seus pelados!'

De capacete e, atendendo o pedido da organização, de biquíni, a reportagem do 💥️Ecoa observou as mais variadas reações. Na rua Riachuelo, pouco antes dos Arcos da Lapa, um homem berrou de sua cadeira de rodas: "Liberdade! Liberdade!"

Uma criança meteu a cabeça para fora do ônibus no intuito de xingar, mas só constatou o óbvio: "Seus pelados!"

No final de semana, a caravana nudista viralizou e até a cantora carioca Teresa Cristina pediu ajuda aos seus seguidores para compreender o movimento.

Pelados (ou quase), ciclistas percorreram ruas movimentadas da zona sul do Rio de Janeiro - Matias Maxx/ysoke - Matias Maxx/UOL

Mortalidade de ciclistas no trânsito cresce no Brasil

"Os ciclistas são atropelados todos os dias, porque as pessoas não prestam atenção na gente, mas, quando a gente anda pelado, todo mundo vê. Um grupo grande, todo mundo sem roupa, não dá para não ver. É dessa forma que a gente chama a atenção para um problema que é recorrente", explicou a cicloativista Mônica Firme Maciel, de "mais de 60 anos", uma das poucas mulheres do grupo a ficar totalmente nua durante o trajeto.

"Nessa semana, tivemos o caso de uma moça em Copacabana", lembrou ainda Mônica, referindo-se à ciclista de 35 anos que morreu, na quarta-feira passada, atropelada por um caminhão após se desequilibrar. Ela trafegava pela ciclovia da avenida Atlântica e foi arremessada para a pista dos carros.

Foram quase quatro óbitos de ciclistas por dia no país, entre 2018 e 2023, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Além disso, cerca de 55,8 mil ciclistas foram internados gravemente na rede pública entre 2018 e 2023, vítimas do trânsito — 80% deles homens. No Rio, houve um aumento de 34% nessa taxa, segundo estudo publicado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).

Por outro lado, a prática do ciclismo tem vantagens para a saúde pública. Se a população carioca passasse a ter o mesmo padrão de atividade física que o dos ciclistas, haveria uma economia de até 19% dos custos do SUS municipal com internações ocasionadas por doenças do aparelho circulatório e diabetes, redução em torno dos R$ 7,7 milhões por ano. O valor foi calculado pela "Pesquisa de Impacto do Uso da Bicicleta na Cidade do Rio de Janeiro", realizada em 2018 pelo Cebrap, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

"Eu me sinto 100% seguro pedalando nu", afirmou o artesão Victor Bonzolândia. "Não é um abuso, estamos pedalando normalmente. Só que, quando estamos pelados, somos protegidos, as pessoas aplaudem, tem gente que fecha o trânsito para a gente passar. É de roupa, com luz, capacete, bicicleta iluminada que somos atropelados."

Ciclista de domingo a domingo, ele usa a bike para trabalho, diversão e como meio de transporte. "Principalmente pela agilidade, porque, dependendo do local, chego muito mais rápido de bicicleta."

Mônica Maciel contou que vendeu seu carro há 20 anos, depois de ficar presa em um congestionamento. "Levei uma hora e meia para andar cinco quarteirões", relembrou. A depender da quantidade de veículos circulando, situações como essas devem se tornar ainda mais frequentes: em 2006, havia 1,3 milhão de automóveis na capital fluminense. Em 2022, já eram 2,1 milhões, segundo dados do IBGE.

Pedalada Pelada - Matias Maxx/ysoke - Matias Maxx/UOL

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