Em Boipeba, moradores resistem a especulação imobiliária

Pense em uma praia paradisíaca — que imagem vem à mente? É comum imaginarmos uma praia de areia fina, águas cristalinas, com mata nativa nos arredores e deserta. No Brasil, empreendimentos têm surgido com o objetivo de privatizar estes paraísos, em clara infração da Lei nº 7.661 de 16 de maio de 1988, segundo a qual todas as praias brasileiras são públicas.

Nesse velho imaginário das ditas praias paradisíacas, vende-se a ideia de que estes são territórios inexplorados e inutilizados, descartando-se completamente a presença das comunidades costeiras que há séculos permitem que essas áreas existam e sobrevivam.

Enquanto, em teoria, ninguém pode te impedir de acessar nenhuma praia, na prática sabemos que não é bem assim: em vários cantos do país vemos verdadeiros "impérios à beira-mar", que vão de resorts a casas de veraneio, instalando, em plena areia, estruturas com contornos próprios de um condomínio fechado.

Há duas semanas, em reportagem do site The Intercept Brasil, veio à tona mais um empreendimento do tipo, o projeto Fazenda Ponta dos Castelhanos, localizado na Ilha de Boipeba, no sul da Bahia. Segundo o site, pretende-se levantar ali um complexo luxuoso, que inclui duas pousadas, campo de golfe, aeroporto, marina e diversos lotes para casas dentro de uma área de proteção ambiental (APA) e nas proximidades da comunidade pesqueira tradicional Cova da Onça, além da comunidade quilombola Monte Alegre.

De início, a história não é bonita: o terreno foi comprado das mãos de um ex-prefeito local, que responde a um processo na Justiça baiana por tomada de terra. A Mangaba Cultivo de Coco LTDA, empresa que está à frente do empreendimento, admite que há pendências a serem resolvidas entre compradores e vendedores.

Manguezal na ilha de Boipeba. Um hectare de mangue pode armazenar oito vezes mais carbono do que um hectare de floresta. - Divulgação/Arquivo Salve Boipeba - Divulgação/Arquivo Salve Boipeba

Assim como os povos indígenas aprenderam a viver em harmonia com a floresta, em muitos cantos do Brasil, há populações que aprenderam a viver do mar e para o mar, ou seja, cuidando dele. São povos que tiram seu sustento do mangue, usam a mata e os arredores para coletas, se colocando na linha de frente contra as mudanças climáticas e a especulação imobiliária nesses territórios que, desde 1500, são os primeiros a serem tomados.

Nas palavras de Dona Jenice, matriarca do samba e nativa da ilha de Boipeba, "não vamos deixar o rico vir tomar a nossa terra".

*💥️Beatriz💥️ Mattiuzzo💥é oceanógrafa, mestranda em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, instrutora de mergulho e cofundadora da Marulho, negócio socioambiental que intercepta redes de pesca junto a pescadores locais em Angra dos Reis. A Marulho foi a vencedora da categoria Empresas que Mudam do Prêmio Ecoa 2023

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