Autor de Torto Arado, Itamar Vieira Jr. não quer saber da opinião da USP

"Se me perguntarem:💥️ 'Você quer escrever para a USP ou para encontrar leitores?' Vou sempre preferir encontrar leitores", afirma o escritor baiano, que acredita que "a crítica brasileira está sempre em busca de Proust e à espera de Beckett. Quando eles descobrem que não há nem Proust, nem Beckett, a coisa azeda."

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"Torto Arado", primeiro romance de Itamar já vendeu 700 mil exemplares e foi seguido pelos 73 mil exemplares dos contos de "Doramar ou a Odisseia" e dos 40 mil exemplares do recém-lançado "Salvar o Fogo". Sem medo do sucesso, o geógrafo e funcionário do Incra faz parte de uma geração de autores que explodiu nos últimos anos quebrando o estereótipo do escritor branco e rico vivendo em uma metrópole do Sudeste. De licença do seu emprego, onde trabalhava pela reforma agrária, o "pai de pet", que divide o lar, no bairro soteropolitano de Itapoã, com gatos e cachorros, fala de temas caros a sua obra, além de revelar segredos e inspirações de seu último romance:

4 - Rafaela Araújo/Folhapress - Rafaela Araújo/Folhapress 3 - Divulgação - Divulgação 2 - Renato Parada/Divulgação - Renato Parada/Divulgação

Uma biografia atravessada imensamente por imaginação, né? Eu vejo semelhanças entre mim e o Moisés (um dos três narradores do romance), vejo semelhanças entre meu pai e o Moisés. Concordo que, talvez, seja a história mais autobiográfica. As características físicas e de vida da Luzia (irmã de Moisés e segunda narradora do livro) são inspiradas na minha tia Belita. Tia Belita era uma mulher negra, corcunda, muito baixinha, que usava uma trança grande. Ela não casou, não teve filhos e trabalhou como lavadeira da Igreja do Bonfim [em Salvador] durante muitos anos. Era uma pessoa que não tinha nada. Quando ela morreu, deixou um travesseiro de herança. Era tudo que ela tinha. Minha tia Rita, irmã de minha mãe, ficou com esse travesseiro e dormiu nele mais de 30 anos.

💥️Apesar do sucesso estrondoso do "Torto Arado", me parece que sua intenção não era fazer um livro pop, né?

Não, foi uma mera coincidência. Consegui escrever de uma maneira simples que encontrou leitores em diversos extratos sociais. Sabe, tem sempre alguém que me diz: "Já encontrei um morador de rua dormindo e tinha seu livro ao lado, com a capa toda esculhambadinha". Tenho o privilégio de ser lido pelas pessoas, de saber que não fui pedante ao ponto de escrever uma história que uma pessoa que não tenha tido a oportunidade de se escolarizar não consiga ler. A [historiadora] Lília Schwarcz fez uma matéria grande para a revista Piauí com Dona Helena, a última pessoa no Brasil descendente direta de um escravizado, filha de um escravizado. Dona Helena tem 97 anos e leu "Torto Arado". Ela falou das semelhanças [do livro] com sua própria vida, sua infância, até reclamou "Que meninas travessas, cortaram a língua!" [referência ao primeiro capítulo de "Torto Arado"]. Achei extraordinário!

💥️Você disse que é um otimista incorrigível. Como está seu otimismo?

Continuo otimista por uma questão simples: tem que ter algum estímulo para a gente levantar da cama. Se a gente não acreditar que as coisas podem melhorar, é melhor ficar por lá deitado, esperando o fim. Acho que ser niilista não é muito coerente com a história humana. 💥O mundo já foi um lugar muito pior. Ainda não é o ideal, mas não dá para desistir, não tem outra opção. Desistir nunca foi uma opção

💥️Falando sobre acreditar, por causa dos seus livros, várias pessoas acham que você é um cara de fé...

Eu adoraria porque, aí, resolveria meus problemas com um pouco de magia. Mas, infelizmente, não nasci com esse dom, 💥️não me considero com o dom da crença, minha religião é a literatura.

💥️Um de seus filmes favoritos é o "Dersu Uzala", que conta o encontro entre um pesquisador russo e um indígena da Sibéria. Existe esperança para a nossa sociedade nessa chave do afeto?

Há muito encontro de afeto. O ✅[escritor negro estadunidense] James Baldwin dizia que, nesse embate racial, ele não aderia por completo a uma política de ódio. Porque, se aderisse, teria que apagar muita coisa bela que aprendeu com as pessoas brancas, muita coisa bonita que fazia parte da arte dele. Então, ele dizia que o💥️ ódio só destrói quem odeia. Nos resta educar a sociedade para uma vida antirracista.

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