No Brasil, a crise climática e as desigualdades andam de mãos dadas

Vivemos em um país de dimensão continental, com 6 biomas diferentes presentes e pulsantes em nosso território nacional. Falar de meio ambiente por aqui é falar de Amazônia, de Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e de Pantanal. Mas também pensar nas pessoas, nas cidades e no campo.

Para nós, o caminho para promover a conscientização e ações em prol da proteção ambiental passa por pensar o território e a identificação que nós, enquanto sujeitos, temos com ele. E entender a relação que se estabelece de afetação - por afetarmos e sermos afetados pelos ambientes que habitamos. Pois não é possível pensar processos de sensibilização e proteção sem trazer para a soma os impactos negativos e já presentes das mudanças climáticas na realidade das pessoas.

Isso porque determinados grupos sociais são atingidos pelos problemas ambientais com maior intensidade que outros, devido a situações de vulnerabilidade, conforme apontado pelo último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2022). Ou seja, alguns sujeitos estão propícios, devido ao sistema atual vigente na sociedade, a sofrerem com os efeitos e consequências que a ação do ser humano vem desencadeando na atualidade.

Esse sistema, que opera a partir de um dito desenvolvimento, vem a ser um instrumento que busca perpetuar - por meio de um processo de colonização de nossas naturezas, saberes e corpos - o silenciamento e a exploração dos sujeitos e os seus ambientes. Entretanto, não são todos os que estão inseridos neste contexto de vulnerabilidade. Quem mais sofre com essas violências são a comunidade LGBTQIAP+, mulheres, juventudes e povos tradicionais. Tudo o que está para além do imposto é colocado em situação de vulnerabilidade.

Isso acontece pois esse modelo que é imposto hoje em dia está diretamente ligado aos problemas ambientais. E isso afeta os que são colocados em situações vulneráveis, os que não possuem poder, revelando, então, um esquema de exploração tanto de recursos naturais como de outras fontes essenciais para sobrevivência - direito ao seu ambiente, a pluralidade e diversidade, ao existir - dos sujeitos que estão no Sul Global. A questão é que além de serem sucateados e violentados, são essas pessoas que recebem sobre seus corpos e territórios o peso das consequências que vem da predação gerada através do ciclo de dominação.

A discussão sobre desenvolvimento tem sido pauta na busca por correr e conseguir recuperar o tempo que foi perdido nos últimos anos, mas a sensação é que ainda precisamos falar sobre a manutenção de direitos básicos. O discurso aponta para um avanço exponencial no Brasil, mas a prática mantém uma lógica de dar prioridade em ainda manter nossos ambientes, nossa segurança e autonomia como moeda de troca por pequenos passos para o futuro. E isso a longo prazo se caracteriza em longos passos para o passado. E para deixar bem marcado: Marco Temporal: não.

*Ana Rosa Calado Cyrus é pedagoga, pesquisadora e ativista de Belém, no Pará. Diretora Executiva do Engajamundo, atuando em área voltada para parcerias, captação de recursos e Educação. Mestra em Geografia, desenvolvendo pesquisas relacionadas à Ativismos Urbanos, movimentos socioambientais e juventudes na Amazônia. Larissa Pinto Moraes é acreana, psicóloga de formação e mestre em Psicologia Social. Compõe o Comitê Facilitador do Engajamundo, atuando na diretoria executiva da organização na área de captação de recursos, parcerias institucionais e impacto. Ativista no campo socioambiental a partir das pautas de raça, gênero e território. Engajamundo foi parceiro estratégico do 2º Prêmio ECOA na Categoria Jovens Causadores.

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