Milton Santos é pop: Descolonizar é olhar o mundo com os próprios olhos

Negro e intelectual - segundo ele duas coisas difíceis de ser no Brasil -, Milton Santos (1926-2001) foi um crítico da chamada segunda globalização, iniciada no fim do século passado (a primeira seria o processo de colonização com as grandes navegações). Mais de vinte anos após a sua morte, sua obra segue atual, quase premonitória, antecipando conceitos hoje amplamente trabalhados no mundo acadêmico como a ideia de Sul Global e de pensamento decolonial. Você pode não saber, mas hoje Milton é pop. A abertura do documentário de Silvio Tendler traz duas citações do professor emérito da USP hoje elevadas à categoria de cards das redes sociais: "Descolonizar é olhar o mundo com os próprios olhos, pensá-lo do ponto de vista próprio"; "O centro do mundo está em todo lugar, o mundo é o que se vê de onde se está".

Pautada pelo estudo da urbanização nos países subdesenvolvidos, a nova Geografia proposta por Milton é movimento. O espaço não se restringe aos elementos físicos, mas inclui as relações sociais que se desenrolam dentro dele e a interação do ser humano com o meio. Na Ocupação, a vida do baiano de Brotas de Macaúbas é apresentada em três momentos-chave: "Analisando, debatendo e planejando a Bahia", com textos e artigos sobre o seu trabalho no Brasil; "Exílio e aprendizagem de muitas realidades", que narra o período de exílio do geógrafo no regime militar (ele chegou a ser preso e depois teve de se abrigar na França). Suas viagens permitiram que ele compreendesse e comparasse a urbanização em países pobres e ricos, assim como as razões da pobreza nos primeiros — , e, por fim, "Volta ao Brasil e consagração internacional e periférica", que encerra a sua trajetória.

O conjunto da obra evoca a frase de Sartre: Milton Santos nos convida a repensar o que é o Brasil e sobre como cada um de nós tem o poder de fazer a diferença onde vivemos. Assim como o geógrafo, também podemos reconhecer a cultura brasileira, seus valores e gerar impactos significativos - ousando, talvez, pensar uma outra globalização, que reduza as desigualdades e contemple conhecimentos e modos de vida do Sul Global.

É um geógrafo muito importante, mas que não é devidamente valorizado. É muito legal ver ele ocupando seu lugar na História graças a exposições como esta, que traz toda a bibliografia dele, 💥️Geisy Oliveira, estudante de Geografia, visitante da Ocupação."Lá fora, eles reconhecem muito mais Milton Santos do que aqui. Espero que as pessoas aprendam mais sobre ele."

Cerca de 30 pessoas compõem a equipe encarregada de montar a mostra. Jader Rosa, gerente do Observatório Itaú Cultural, o núcleo responsável por sua curadoria, diz que o intelectual recebeu poucas homenagens além do meio acadêmico, e a escolha da sua figura para a Ocupação foi a oportunidade de levá-lo ao grande público. Além de vídeos introdutórios e outros materiais explicativos, o visitante encontra referências ao processo criativo de Milton Santos. Em quadros do local, encontram-se manuscritos com anotações originais. Em caneta verde, as ideias que eram consideradas novas. Em vermelho, trechos que sofreram cortes em edições finais.

A questão racial também está presente. "É uma parte menor, uma vez que Milton dizia não ser um entendido dessas questões, um estudioso delas, mas que as vivenciava todos os dias", explica Jader.

"Temos a expectativa de que, com a exposição, as pessoas possam se entender como indivíduos vetores da transformação. O próprio Milton falava que estudava o presente, mas que esse presente poderia ser mudado. Esperamos que a mostra seja um lugar de inspiração", finaliza Jader.

Sobre a mostra

A Ocupação Milton Santos é gratuita e ficará em cartaz até o dia 8 de outubro no espaço Itaú Cultural, na Avenida Paulista, 194. Além da exposição, a Ocupação temática também está presente em outros canais. Paralelamente à mostra, o já citado "Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá", de Silvio Tendler, está em cartaz na Itaú Cultural Play, plataforma de streaming dedicada ao cinema brasileiro. O filme, produzido em 2006, se baseia na última entrevista dada por Milton, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o Norte rico e o Sul pobre e apresenta perspectivas para o futuro da humanidade.

Outra ação temática é o curso "Milton Santos: cidadão do mundo e geógrafo das quebradas", com o professor, geógrafo e ativista social Billy Malachias. O curso é gratuito e aberto a todos os públicos, com foco em gestores escolares, coordenadores pedagógicos, professores e profissionais de educação em geral. Seu conteúdo percorre a trajetória socioespacial do intelectual, introduzindo os principais conceitos desenvolvidos em sua perspectiva teórica e faz uma reflexão sobre as suas contribuições para a educação. Para acessá-lo, o visitante deverá se cadastrar na plataforma Polo.

Colaborou Matheus Zanin (apuração e texto)

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