Por que o avanço do peixe-leão no litoral brasileiro preocupa

Edison Veiga

07/05/2023 09h20

Pesquisador no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o biólogo e geocientista Marcelo Soares conta que, entre 2023 e março de 2023, foram capturados e registrados "mais de 300 exemplares" do animal na costa de oito estados diferentes do Nordeste.

"O que tem nos assombrado é que até março de 2022 a gente encontrava animais pequenos, de 14 ou 15 centímetros. Agora já são exemplares na faixa dos 28 centímetros. E mais ao norte, no Amapá, no Pará e em Fernando de Noronha, já encontramos com 32 centímetros", comenta. "E eles têm se reproduzido, encontramos várias fêmeas ovadas."

Sem sombra de dúvidas, nossos dados mostram um crescimento exponencial desses animais, sem nenhum achatamento da curva. É um crescimento muito rápido da população. Todo dia eu recebo algum vídeo."

Peixe-leão caçado com um arpão no litoral do Ceará

De acordo com o médico, "embora não cause mortes", um incidente assim "pode incapacitar a vítima por até uma semana".

Em maio do ano passado, ele foi um dos autores de um artigo científico registrando a primeira ocorrência de acidente com peixe-leão em ambiente natural no Brasil. Um pescador de 24 anos teve sete perfurações quando pisou sobre um exemplar na praia de Bitupitá, em Barroquinha, no Ceará. Ele apresentou edema e eritema locais, além de sentir dor e febre.

Soares conta que, de lá para cá, há notícias de pelo menos outros seis acidentes com pescadores.

💥️Como se disseminou?

Não se sabe exatamente como o peixe-leão chegou ao Atlântico. As teorias mais aceitas são de que eles foram introduzidos ao ambiente a partir de aquários. "Provavelmente no início da década de 1990", afirma Domenichelli. "Talvez isso tenha ocorrido em 1992, quando o furacão Andrew destruiu um aquário no sul da Flórida, liberando seis exemplares na baía de Biscayne."

Mas ele também acredita na possibilidade de aquaristas amadores terem soltado os bichos no oceano, seja "para se livrar do animal", seja por "enjoar do hobby", seja por "achar que iriam dar liberdade ao peixe". Da Flórida, ele logo se espalhou pelos mares do Caribe.

No Brasil, a primeira aparição foi registrada no Rio de Janeiro. Há dois registros, em 2014 e 2015, no Arraial do Cabo.

Mas depois disso nunca mais se soube de nada nessa região, então acreditamos que tenha sido uma introdução isolada ocorrida a partir de algum aquário e que, na ocasião, ele não se proliferou", afirma Soares.

A situação foi diferente a partir de 2023, quando o peixe-leão passou a ser encontrado com frequência no litoral do Nordeste e no entorno de Fernando de Noronha. "Passamos a ter evidências de introdução de modo natural. Eles já estavam na Venezuela e na Guiana Francesa, possivelmente atravessaram nadando utilizando um sistema de recifes profundos ali onde o Rio Amazonas deságua no mar", explica o geocientista.

Não é fácil conter o avanço do bicho. Segundo os pesquisadores, a única solução é o incentivo à caça, como já vem ocorrendo no Caribe. "Erradicar é praticamente impossível, então é preciso controlar sua população", diz Soares. "O termo que usamos é 'erradicação funcional'. A ideia é mantermos a população dele baixa para que não cause muito impacto."
Autor: Edison Veiga

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