Com carne-seca na brasa e espetinho, comida africana tem alma churrasqueira

Prato do chef Dela Kwami Acolatse, de Gana - Divulgação

Flávia G Pinho

11/07/2023 04h00

Esse lado pouco conhecido do receituário africano, onde a presença de carnes é marcante, vai estar sob os holofotes na Churrascada 2023, festival que acontece no dia 5 de agosto, em São Paulo.

As 3 mil pessoas que pagaram até R$ 600 pelos ingressos, esgotados em pouco mais de 1 hora, vão conhecer profissionais como o chef e artista plástico Dela Kwami Acolatse, que vem de Gana para mostrar a comida de rua de seu país. Ele vai preparar beef chichinga, uma espécie de espeto de carne grelhado, besuntado com um mix de temperos chamado suya, à base de castanhas, especiarias e pimentas.

Em Gana, carnes vermelhas, inclusive de cabritos e porcos, são bastante consumidas, embora nem todos comam carne suína por razões religiosas. Galinha também é uma das favoritas, por ser mais acessível."

Beef chichinga do chef Dela Kwami Acolatse, de Gana - Divulgação - Divulgação Prato do chef Dela Kwami Acolatse, de Gana - Divulgação - Divulgação Chef Dela Kwami Acolatse, de Gana - Divulgação - Divulgação Chef Ikenna Bobmanuel, da Nigéria - Kevin Okai - Kevin Okai Prato do chef Ikenna Bobmanuel, da Nigéria - Kevin Okai - Kevin Okai

Charque assada na brasa, com farofa d'água e molho de dendê: prato de Solange Borges

"Depois de dessalgar o charque de um dia para o outro, dou uma fervura na panela de pressão, para ficar macia, e levo a peça inteira para a brasa. Fica maravilhosa."

Carnes também são Comida de Santo, os pratos oferecidos aos orixás nas religiões de matriz africana. Chef do Meza Bar e do Yayá Comidaria, no Rio de Janeiro, Andressa Cabral vai montar sua estação da Churrascada como um altar ritualístico, em homenagem a Exu, Ogum e Oxóssi, para contar essa história.

E pretende causar — vai marinar um porco inteiro em molho aveludado de fígado, por 48 horas, para depois assá-lo no rolete, sobre as brasas. Nas palavras dela, será um molho de acento asiático, com uma bomba de especiarias. De acompanhamento, paçoca de amendoim e dendê.

O conceito 'from nose to tale', tão na moda, sempre foi um elemento básico dentro da cultura africana. Houve um momento em que meu povo só teve acesso às sobras e redesenhou seu consumo. Nos sentimos responsáveis pelo animal."

Andressa não estranha o fato de a cozinha afro ser tão associada ao camarão — ele é mesmo onipresente no receituário que, hoje, virou sinônimo de Bahia. "A gente tem tranquilidade para misturar camarão seco com várias outras proteínas. É nosso refogadinho básico, com cebola, alho e cheiro verde."

Mas ninguém acharia essas combinações estranhas se a história da cultura africana nos tivesse sido contada de outra forma.

"Nosso conhecimento é muito limitado em todos os assuntos: artes, literatura, tecnologia...", diz a pesquisadora Patty Durães, que assina a curadoria da Churrascada. Para ela, só conhecemos a versão contada pelos colonizadores europeus.

O mundo toma cerveja e bebe vinho porque os povos africanos descobriram técnicas de fermentação, mas suas descobertas foram apropriadas em um processo feroz de apagamento."

Nunca é tarde para virar a página e começar de novo, do jeito certo.

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