Sexo grupal e cerveja à vontade: como era o Festival da Embriaguez no Egito

Sergio Crusco

Colaboração para Nossa

01/08/2023 04h00

Era normal naquelas bandas. Hathor (ou Sekhmet), deusa da pá virada, se não fosse agradada, podia transformar a vida de todo mundo num inferno, impedindo a boa inundação anual do Rio Nilo. A subida das águas era fundamental para fertilizar a terra, manter a vida e a fartura. Acreditava-se que Hathor tinha poder de decisão sobre esse fenômeno natural.

A história que se conta é a seguinte: o grande deus Rá, desconfiado de que os humanos tramavam tomar seu lugar, decidiu exterminar a raça toda. Sua filha Hathor (que tinha mais de uma cara, mais de um nome e mais de um temperamento) foi escolhida para a missão. Tomando a forma de Sekhmet, corpo de mulher e cabeça de leoa, foi com sede ao pote.

Sim, vamos beber e comer do banquete! Vamos nos regozijar, regozijar e regozijar de novo! Que Bastet (outro nome de Hathor) esteja a nossos pés. Vamos nos embriagar por ela em seu festival da embriaguez. Deixe-o beber, deixe-o comer, deixe-o foder."

Ver a deusa no meio de um transe alcoólico, eles acreditavam, permitia uma conexão mais rápida com o sagrado, uma vez que Hathor/Sekhmet também era bem chegada a uma manguaça. A ocasião ideal para, além de uma boa inundação, fazer pedidos pessoais à divindade.

Estátua de Hathor - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images - Wolfgang Kaehler/LightRocket via Getty Images

Betsy descreve que o festerê não rolava apenas nos templos, mas em casas ou ao ar livre — que nem festa junina, que pode acontecer no grande arraial de Caruaru, na igreja ou na escola.

O período coincide com a presença de cervejarias de escala industrial em vários pontos do Egito, algumas com capacidade para produzir cerca de 760 litros por dia (haja festival). Numa sociedade bastante desigual, antes mesmo do capitalismo, o poder do rei e dos donos dos meios de produção era legitimado pelos festivais do goró.

O Festival da Embriaguez era financiado pelo faraó (tido como a personificação de Rá na terra) e pelos senhores que controlavam as cervejarias, com apoio do poder religioso. Era possível que, naqueles idos, um cidadão comum pensasse: "Que sujeitos batutas! Liberam um baita open bar de cerveja na faixa e ainda deixam a galera fofar numa boa".

Gravura mostra festa no Antigo Egito

O antropólogo Michael Dietler, da Universidade de Chicago, citado por Victoria, acredita que as práticas culturais envolvendo o álcool constroem, personificam e moldam tanto a identidade pessoal quanto coletiva. As festas transformam o capital econômico em capital simbólico. Fica todo mundo satisfeito: quem bebe e quem oferece a bebida.

As pessoas são reunidas em comunidade, mas as festas também têm o poder de, simbolicamente, reiterar e legitimar relações institucionalizadas de um poder social assimétrico", diz Michael.

Pão (no caso, cerveja) e circo davam ao povo a sensação de pertencimento e ajudavam a manter a ordem social que os poderosos queriam ver estabelecida. Portanto, desconfie de quem lhe ofereça muita cerveja. Mesmo que os benefícios lúbricos advindos do convite possam parecer irresistíveis.

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