Justiça é processo contínuo, diz ruandesa que sobreviveu a genocídio aos 14 anos

Na infância, Beatha Uwazaninka ouvia sua avó falar sobre planos de deixar Ruanda e ir viver com seus outros filhos em Uganda. Quando tinha 7 anos, em 1987, a mãe de sua mãe chegou a vender a terra em que elas viviam na cidade de Bugesera, no sul do país, para partir.

Numa noite, porém, ela acordou com pessoas invadindo a casa. Sua avó foi morta com golpes de martelo. Pela manhã, procurou vizinhos e, com eles, achou o corpo da anciã numa vala.

Uwazaninka entendeu o que significava ser tutsi, uma minoria étnica de Ruanda que anos depois seria alvo de um genocídio no país.

Embora as etnias existissem na região desde antes da era colonial, a administração belga fixou a diferenciação entre os grupos tutsi, hutus e twas em documentos de identidade, privilegiou os primeiros e acirrou ressentimentos entre as classes. Hutus tomaram o poder no processo de independência, e ondas de conflitos continuaram nas décadas seguintes.

Os planos de sua avó de mudar para Uganda faziam parte da vontade de fugir da discriminação e da violência. Vez ou outra, tutsis apareciam mortos em arbustos ou flutuando nos rios, e a impunidade era regra.

Na escola, Uwazaninka lembra que, nas aulas de história da escola primária, professores pediam que tutsis ficassem em pé, para logo em seguida demandarem que hutus fizessem o mesmo. Era ensinado que tutsis eram maus. No fim do dia, as crianças brigavam umas com as outras, replicando conflitos étnicos.

Em 1994, ela soube apenas no dia 7 de abril, pelo jornal, que o avião do presidente hutu Juvenal Habyarimana havia sido abatido na véspera. Na semana anterior, havia ouvido pela Rádio Libre des Milles Collines (estação que incitava o extermínio de tutsis) que algo grande aconteceria. Era o início do genocídio.

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