Soluções de engenharia podem nos salvar da crise climática?

Em um planalto islandês com vento intenso, uma equipe internacional de engenheiros e executivos está instalando uma máquina inovadora projetada para alterar a própria composição da atmosfera terrestre.

Se tudo correr como o planejado, o enorme vácuo em breve sugará grandes quantidades de ar, removendo o dióxido de carbono e então armazenando os gases de efeito estufa nas profundezas do subsolo.

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Poucos anos atrás, tecnologias como essas, que tentam fazer uma reengenharia do ambiente natural, estavam à margem no mundo da ciência. Eram muito caras, muito impraticáveis, muito de ficção científica.

Mas, com os perigos das mudanças climáticas se agravando e o mundo falhando em cumprir suas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, elas estão se movendo para o "mainstream" entre cientistas e investidores, apesar de questionamentos sobre sua eficácia e segurança.

Pesquisadores estão estudando maneiras de bloquear parte da radiação solar. Eles também estão testando se adicionar ferro ao oceano poderia transportar o dióxido de carbono para o fundo do mar. Estão elaborando planos para construir gigantescos guarda-sóis no espaço. E, com instalações gigantes como essa na Islândia, buscam reduzir a concentração de dióxido de carbono no ar.

Desde o início da era industrial, os seres humanos bombearam grandes volumes de gases de efeito estufa na atmosfera em busca da industrialização. Isso resultou em uma remodelação da atmosfera equilibrada do planeta, que intensifica o calor, piora secas e tempestades e ameaça o progresso humano.

À medida que os riscos se tornaram mais nítidos, líderes políticos e de empresas se comprometeram a manter as temperaturas médias globais em até 1,5°C acima do nível anterior à Revolução Industrial. Mas, por vários meses no ano passado, o mundo ultrapassou brevemente esse limite.

As temperaturas globais devem subir até 4°C até o final do século. Isso deu mais peso ao que algumas pessoas chamam de geoengenharia, embora seus defensores prefiram o termo "intervenções climáticas".

A esperança reside na ideia de que empregar medidas como essas pode nos fazer ganhar tempo em um momento em que o consumo de energia está aumentando, e o mundo não está abandonando os combustíveis fósseis na velocidade necessária.

Muitos dos projetos são controversos. Uma planta semelhante à da Islândia está sendo construída no Texas pela Occidental Petroleum. A Occidental pretende usar parte do dióxido de carbono que captura para extrair mais petróleo, cuja queima é uma das principais causas da crise climática.

Alguns críticos dizem que outros tipos de intervenções poderiam criar novos problemas ao alterar padrões climáticos ou amplificar o sofrimento humano através de consequências não intencionais. Na prática, eles se perguntam: os humanos devem testar mexer com o ambiente dessa maneira? Será que sabemos o suficiente para entender os riscos?

"Precisamos de mais informações para que possamos tomar essas decisões no futuro", diz Alan Robock, professor de ciências atmosféricas na Universidade Rutgers (EUA). "O que é mais arriscado: fazer ou não fazer?"

Outros argumentam que tecnologias fantasiosas ou caras desperdiçarão recursos e tempo, ou iludirão as pessoas com a ideia falsa de que será possível retardar o aquecimento global sem eliminar os combustíveis fósseis.

Há o risco de atores aventureiros avançarem com esforços para mudar o clima. O México proibiu o que é conhecido como modificação da radiação solar depois que uma startup da Califórnia liberou dióxido de enxofre na atmosfera sem permissão.

Como essas tecnologias são muito recentes, há relativamente pouca regulamentação que as regule.

"Há essas questões muito maiores sobre quem decide como tudo isso é coordenado ao longo do tempo", diz Marion Hourdequin, professora de filosofia ambiental no Colorado College.

Edda Aradottir caminha pela neve fresca para inspecionar a planta de captura direta de ar na Islândia.

Aradottir é CEO da Carbfix, empresa islandesa que trabalha com a startup suíça que construiu a planta, a Climeworks. Conhecido como Mammoth, o projeto é alimentado por energia geotérmica limpa e capaz de capturar até 36 mil toneladas métricas de dióxido de carbono por ano e bombeá-lo para o subsolo.

Isso é apenas uma milionésima parte das emissões globais anuais. Mas, ao contrário das árvores, a Climeworks promete armazenar esse dióxido de carbono para sempre.

Quando o Mammoth for ligado nas próximas semanas, será a maior instalação desse tipo no mundo, embora a quantidade de carbono que ele pode absorver ainda seja apenas uma gota no oceano.

A planta da Occidental, em construção perto de Odessa, no Texas, será mais de dez vezes mais poderosa que o Mammoth, alimentada por energia solar, e terá o potencial de capturar e armazenar 500 mil toneladas métricas de dióxido de carbono por ano.

Ela usa um processo diferente para extrair o dióxido de carbono do ar, embora o objetivo seja o mesmo: a maior parte será armazenada nas profundezas do solo.

Ainda que mais empresas decidam começar a compensar suas emissões, existem maneiras mais baratas de fazer isso, incluindo preservar florestas e pagar por energia renovável. Por exemplo, custa de US$ 500 a US$ 1.000 capturar uma tonelada métrica de dióxido de carbono com captura direta do ar, em comparação com US$ 10 a US$ 30 por tonelada para a maioria dos créditos de carbono atualmente.

O mundo dos negócios está otimista. O BCG Boston Consulting Group espera que mais empresas comecem a comprar créditos para pagar pela remoção de dióxido de carbono e mais governos incentivem essa compra.

Nos Estados Unidos e na Europa, os governos começaram a subsidiar a construção das usinas. Até 2040, o BCG espera que o mercado de tecnologias de remoção de dióxido de carbono possa crescer dos menos de US$ 10 bilhões atuais para até US$ 135 bilhões.

O mercado de captura direta do ar tem detratores veementes na academia, nos círculos ativistas e além.

Alguns dizem que não passa de uma artimanha das empresas de petróleo e gás para prolongar as indústrias responsáveis pela criação do aquecimento global. Eles apontam para as extensas evidências de que interesses de combustíveis fósseis trabalharam por anos para minimizar a consciência pública sobre as mudanças climáticas, e o fato de que parte do carbono capturado será usado para produção adicional de petróleo.

À medida que as pessoas começam a mexer deliberadamente com o clima de novas maneiras, surgem questões. Se o clima extremo atual e o aumento de temperatura surgiram inadvertidamente, o que poderá acontecer quando começarmos a tentar controlar ativamente a atmosfera do planeta?

"É verdade que temos alterado o clima por meio de emissões de gases de efeito estufa por séculos", diz Hourdequin. "Mas tentar gerenciar intencionalmente o clima por meio da geoengenharia seria um empreendimento distinto, bastante diferente do tipo de interferência descuidada em que nos metemos até agora."

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