Cientistas testam tecnologia para rebater raios do sol e evitar aquecimento global

Pouco antes das 9h da manhã de 2 de abril, um engenheiro chamado Matthew Gallelli se agachou no convés de um porta-aviões desativado na baía de San Francisco (EUA), colocou um par de protetores auriculares e acionou um interruptor.

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Alguns segundos depois, um dispositivo semelhante a uma máquina de fazer neve começou a roncar, em seguida produziu um grande e ensurdecedor sibilo. Uma fina névoa de pequenas partículas de aerossol disparou de sua boca, viajando centenas de metros pelo ar.

Foi o primeiro teste ao ar livre nos Estados Unidos de uma tecnologia projetada para clarear as nuvens e refletir alguns dos raios do sol de volta ao espaço, uma maneira de resfriar temporariamente um planeta que está agora perigosamente superaquecido.

Os cientistas queriam ver se a máquina que levou anos para ser criada poderia pulverizar consistentemente os aerossóis de sal do tamanho certo ao ar livre, fora de um laboratório.

Se funcionar, a próxima etapa é tentar mudar a composição das nuvens acima dos oceanos da Terra.

À medida que os seres humanos continuam a queimar combustíveis fósseis e bombear quantidades crescentes de dióxido de carbono na atmosfera, o objetivo de manter o aquecimento global em um nível relativamente seguro está saindo do controle. Isso fez crescer a ideia de intervir deliberadamente nos sistemas climáticos.

Universidades, fundações, investidores privados e o governo federal dos EUA começaram a financiar uma variedade de esforços, desde a remoção de dióxido de carbono da atmosfera até a adição de ferro ao oceano na tentativa de armazenar dióxido de carbono no fundo do mar.

"Com novos registros de mudanças climáticas e temperaturas recordes a cada ano, estamos levando a campo a busca por mais alternativas", diz Robert Wood, cientista que lidera a equipe da Universidade de Washington que está conduzindo o projeto de clareamento de nuvens marinhas.

Clarear as nuvens é uma das várias ideias para empurrar a energia solar de volta para o espaço —às vezes chamada de modificação da radiação solar, geoengenharia solar ou intervenção climática. Comparado com outras opções, como injetar aerossóis na estratosfera, o clareamento de nuvens marinhas seria localizado e usaria aerossóis de sal marinho relativamente benignos em oposição a outros produtos químicos.

Ainda assim, a ideia de interferir na natureza é tão controversa que os organizadores do experimento mantiveram os detalhes em sigilo, preocupados que críticos tentassem impedi-los.

Embora a administração Biden esteja financiando pesquisas sobre diferentes intervenções climáticas, a Casa Branca se distanciou do estudo na Califórnia, enviando uma declaração ao The New York Times que diz: "O governo dos EUA não está envolvido no experimento de Modificação da Radiação Solar (SRM) que está ocorrendo em Alameda, Califórnia, ou em qualquer outro lugar."

Em 1990, um físico britânico chamado John Latham publicou uma carta na revista Nature, sob o título "Controle do Aquecimento Global?", na qual ele introduziu a ideia de que injetar pequenas partículas nas nuvens poderia compensar o aumento das temperaturas.

Latham tinha uma proposta que pode ter parecido bizarra: criar uma frota de mil embarcações não tripuladas movidas a vela para percorrer os oceanos do mundo e pulverizar continuamente pequenas gotas de água do mar no ar para desviar o calor solar da Terra.

A ideia é baseada em um conceito científico chamado efeito Twomey: grandes quantidades de pequenas gotas refletem mais luz solar do que pequenas quantidades de grandes gotas. Injetar vastas quantidades de aerossóis minúsculos, formando muitas pequenas gotas, poderia mudar a composição das nuvens.

"Se pudermos aumentar a refletividade em cerca de 3%, o resfriamento equilibrará o aquecimento global causado pelo aumento de CO2 na atmosfera", disse Latham, que morreu em 2023, à BBC. "Nossa ideia oferece a possibilidade de ganharmos tempo."

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