A ilusão da agressividade: como o passado distorce nossa percepção de risco

Você já percebeu que quando olhamos o carrinho de montanha russa dando reviravoltas e rodopios, parece superdivertido? Olhando de fora, as pessoas parecem cheias de energia e soltar gritos de alegria. Entretanto, se você já passeou em uma daquelas grandes montanhas russas, sabe que quando estamos sentados no carrinho a situação é diferente. O estômago sobe à boca, o sangue some da face, tudo perece rodar e a não fazer sentido. Pensamos, o que eu estou fazendo aqui? O mesmo ocorre com o risco.

No fim do ano passado, ao conversar com um investidor sobre as possibilidades de investimento, ele me sentenciou que se considerava um investidor agressivo.

Lembro bem de suas palavras: "Michael, estou comprando para segurar. Não me importa o que vai ocorrer no meio do caminho. Sei bem da oscilação."

Ele se referia a dois investimentos que gostaria de investir um percentual mais elevado na carteira, pois, segundo sua expectativa, "nos próximos 5 anos, não tem como perder."

Ah, a montanha russa. Eu gosto de ver, mas tenho um problema em passear nelas. Aguento bem o risco e sou realmente um investidor agressivo. Mas não consigo dar duas voltas em uma montanha russa. Na primeira queda, já estou tonto e gritando: "para que eu quero descer". No fim, penso "por que eu quis subir?"

A maioria dos investidores suporta mais os rodopios da montanha russa a uma simples balançada do mercado.

Os dois ativos que ele queria investir eram ações pagadoras de dividendos e no título Tesouro Renda +2040. O investidor que eu conversava, pensava em se aposentar em 15 anos e acreditava que se dividisse sua carteira apenas nestes produtos e esquecesse, faria um grande negócio.

Lembro que ele repetiu uma frase que disse ser atribuída a Luiz Barsi Filho: "O que importa são os dividendos. A oscilação dos preços não importa". Não posso afirmar se Barsi falou exatamente isso, mas já vi ele algumas vezes falando que o que importa são os dividendos.

De fato, quando olhamos os últimos 5 anos, o índice IDIV de ações pagadoras de dividendos rendeu o equivalente a 11,3% ao ano quando considerado dividendos e ganho de capital. No mesmo período, o CDI rendeu uma média de 7,9% ao ano. Portanto, o IDIV se valorizou 143% do CDI.

Quando se avalia uma taxa de IPCA+5,51% ao ano que era a taxa do Tesouro Renda+2040 ao fim de 2023, também é possível dizer que possivelmente será maior que o CDI no longo prazo. Afinal, no longo prazo, o CDI rendeu em média IPCA+3,8% ao ano.

O difícil é "esquecer", ou seja, não olhar para o curto prazo. O problema está na marcação a mercado de curto prazo de produtos de risco como estes que sofrem grandes oscilações com o mercado.

Em 2024, o IDIV se desvalorizou 2,5% e o Tesouro IPCA2040 caiu 7,7% até o dia 10 de abril.

O mesmo investidor me ligou essa semana para perguntar se deveria "pedir para parar, pois queria descer". Na hora, lembrei de mim na montanha russa.

Esse é um caso muito comum entre investidores.

Avaliar que você suporta o risco depois que viu que deu tudo certo para um ativo no passado é fácil. O problema vem quando se senta no carrinho e sentimos os efeitos dos rodopios. A certeza sobre que tudo vai dar certo e basta tão somente esperar é abalada no primeiro solavanco da montanha russa do mercado.

Portanto, cuidado ao achar que você é agressivo só porque viu um investimento de risco que deu certo no longo prazo. Sempre que decidir por um investimento que tenha possibilidade de sofrer oscilações com o mercado, aplique inicialmente pouco e sinta o efeito dos rodopios da montanha russa. Assim, vai evitar de realizar perdas em momentos que o mercado se mostrar desfavorável.

Michael💥️ Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da 💥️Casa do Investidor💥️.

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