Pragmática, Meloni passa de ameaça à UE para aliada da chefe executiva do bloco

"Un bacetto", um beijinho, disse a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, enquanto transformava um aperto de mãos cerimonioso em uma troca de beijos entre duas colegas sorridentes. Um pouco travada com a informalidade, a outra protagonista rapidamente cedeu. Era a alemã Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

A cena, ocorrida em janeiro em Forli, na Itália, durante uma visita de Von der Leyen às áreas afetadas pelas enchentes do ano passado, não passou despercebida por analistas e políticos, mas também não causou estranhamento. Àquela altura, as relações entre a anfitriã ultradireitista e a convidada de centro-direita estavam sintonizadas havia alguns meses.

Se um dia Meloni praguejou contra o euro, como na campanha para as eleições europeias de 2014, ou afirmou que a mamata iria acabar para a Europa quando ela chegasse ao poder, como disse semanas antes de ser eleita, em 2022, ninguém ali parecia se lembrar.

A dois meses da votação para o Parlamento Europeu, que pode abrir mais espaço para o grupo político de Meloni (Conservadores e Reformistas) e dar a ela mais relevância na definição da próxima Comissão Europeia, a líder italiana conseguiu, ao longo de um ano e meio, dissipar a imagem que a rodeava antes de assumir o cargo —a de uma ameaça às instituições da União Europeia, como Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.

A desconfiança, em especial na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, tinha como base as raízes pós-fascistas do partido fundado por ela, o Irmãos da Itália, os discursos inflamados dos anos de oposição e seus parceiros na coalizão de governo, Matteo Salvini (Liga) e Silvio Berlusconi (Força Itália), morto em 2023. O primeiro é declaradamente antieuropeísta, e ambos nutriram bom relacionamento com o russo Vladimir Putin.

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Logo na chegada, Meloni mostrou alinhamento na defesa da Ucrânia contra a Rússia. "Os EUA e os europeus pediam que ela não rompesse essa frente de apoio, e ela não o fez. Ela entende os mecanismos de política internacional e viu que para a Europa se trata de uma batalha existencial", diz Arturo Varvelli, diretor do escritório em Roma do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

Outro momento importante foi o posicionamento em relação à China, com a decisão de Meloni de tirar a Itália da Nova Rota da Seda. Único país do G7 a aderir à iniciativa, em 2023, a saída era um passo diplomático delicado a ser realizado, pelo temor de possíveis retaliações econômicas do país asiático.

"Foi algo administrado de forma muito discreta, longe da cobertura mediática, sem propaganda. Exatamente para não irritar Pequim. Foi uma gestão cautelosa que parece ter dado resultados", afirma Leo Goretti, chefe do programa de política externa italiana do Instituto de Assuntos Internacionais (IAI).

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