Grupo Galpão celebra a vida que continua em Cabaré Coragem e revisita Brecht

Ao ficar fora da cena para conduzir o espetáculo "Cabaré Coragem", em cartaz no Sesc Belenzinho, em São Paulo, o ator e diretor Júlio Maciel tem a oportunidade de olhar os atores e atrizes do grupo Galpão de outra perspectiva e, enfim, compreender a força do coletivo mineiro fundado em 1982 e que ele integra há 32 anos.

"Desde Romeu e Julieta —peça montada pela primeira vez em 1992 e um marco na história do grupo— a gente ouve sobre essa força. É bonito sair, ver de fora e entender a potência que esses atores têm quando estão juntos no palco."

Mas, afinal, o que explica a química capaz de unir os artistas e fazê-los há quatro décadas superar as dificuldades, as crises e, mais recentemente, a pandemia e os ataques à cultura liderados pelo bolsonarismo?

Para Júlio, a explicação está na diferença entre os integrantes, tanto fisicamente como em relação ao olhar para o mundo. "O Galpão é um grupo extremamente heterogêneo e isso é uma grande qualidade", analisa.

E tem, claro, a paixão pelo teatro. "Somos diferentes, mas temos essa paixão em comum. O Galpão é um projeto de teatro", reafirma a atriz Inês Peixoto, no grupo desde 1992.

Paixão que transborda em "Cabaré Coragem", o espetáculo que estreou em Belo Horizonte em junho do ano passado e passou por cinco capitais do Nordeste, Curitiba, Niterói e Rio de Janeiro antes de chegar a São Paulo, no dia 4.

O grupo mescla um repertório de músicas interpretadas ao vivo com números de variedades e danças, fragmentos de textos da obra de Brecht e cenas de dramaturgia própria.

Depois da pandemia, o Galpão estava faminto de gente. A ideia de criar um cabaré veio da vontade de estar novamente perto das pessoas, por meio de uma interatividade grande com a plateia.

O público faz parte do espetáculo desde a entrada, quando é recebido com música no estilo piseiro e doses de pinga mineira. Ao longo da apresentação, as pessoas são estimuladas a reagir às provocações dos artistas e têm à disposição uma pista de dança no intervalo, que dura o tempo da animação dos festeiros.

No palco, e percorrendo outros espaços do cabaré, os artistas interpretam uma trupe envelhecida e decadente que celebra a arte e confirma que ainda tem muito a mostrar ao mundo com seus corpos imperfeitos e memórias ricas.

O envelhecimento foi uma das questões levadas pelos atores e atrizes, todos na faixa dos 60 anos, ao processo de pesquisa e montagem.

O tema é escancarado em uma das falas da Madame, a dona do "buraco quente", interpretada por Teuda Bara, 82, uma das fundadoras e estrela do Galpão. "Quem é que vai querer dar emprego para um bando de artistas velhos?", ela questiona ao se deparar com uma rebelião do elenco.

"Isso é verdade", diz Inês. "As pessoas têm tido dificuldade de trabalhar. A gente quer cada vez mais descobrir espaços que sejam legais para os nossos corpos."

Teuda materializa isso na cena em que sua fragilidade física é superada pelo vigor da interpretação de "Mamãe Coragem", aplaudida em pé na estreia, em um encontro entre Caetano Veloso, autor da canção, e Brecht, que criou a peça "Mãe Coragem e Seus Filhos".

Ligado à tradição do teatro popular e de rua, o Galpão mantém a fidelidade à origem ao adaptar o cabaré para espaços diversos.

Em Natal, por exemplo, a apresentação foi ao ar livre. Em Fortaleza, em um lugar para apenas 150 pessoas, o que exigiu adaptações no cenário. O público de Aracaju assistiu ao espetáculo em um palco italiano. No Festival de Curitiba, a pista de dança ferveu no Teatro Guairinha.

No Sesc Belenzinho, a trupe ocupa uma sala multimeios, com arquibancada, mesas decoradas com abajures e, em uma das laterais, uma imensa janela de vidro que revela um circo instalado no bairro e prédios enormes engolindo tudo ao redor.

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