Carros hiperpersonalizados ganham força e podem custar até R$ 11 milhões
O presidente-executivo da Ferrari, Benedetto Vigna, diz que espera um dia vender um carro de US$ 10 bilhões (R$ 51 bilhões). Ele está brincando, mas é uma ideia baseada em um fenômeno que realmente acontece no setor: clientes super-ricos dispostos a pagar preços exorbitantes para criar um supercarro único próprio.
"Isso é um sonho, mas isso seria o extremo do luxo", disse Vigna ao Financial Times.
Até recentemente, as opções de personalização de carros como um novo Rolls-Royce, Bentley ou Aston Martin eram limitadas a escolhas como cor da pintura e tipo de estofamento e rodas.
Nos últimos cinco anos, as coisas mudaram: compradores ricos estão dispostos a gastar quantias cada vez maiores para tornar seus novos carros altamente personalizados, às vezes até optando por redesenhar o veículo inteiro.
"A demanda [por personalização] está nas alturas, e talvez seja porque as pessoas conseguem expressar sua própria estética e preferências".
Essa explosão de hiperpersonalização é um fator importante no aumento da lucratividade para marcas como Bentley, de propriedade da Volkswagen, e Ferrari, que podem atender às exigências dos grandes gastadores.
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No ano passado, a Ferrari foi tão lucrativa que aumentou suas previsões a cada trimestre que passava e registrou um lucro líquido recorde de 1,26 bilhão de euros (R$ 6,8 bilhões) para o ano, dos quais cerca de 460 milhões de euros (R$ 2,5 bilhões) vieram de preços mais altos impulsionados pela customização.
Enquanto isso, a Bentley teve um aumento de quase 10 vezes nos lucros desde 2023 para 589 milhões de euros (R$ 3,2 bilhões) no ano passado, impulsionado pelo que a empresa chamou de níveis de gastos "espantosos" com customização.
Na Rolls-Royce, marca de luxo da BMW, uma divisão separada foi criada para lidar com a personalização. Isso regularmente eleva o custo do carro —que tem preços iniciais de 270 mil libras (R$ 1,7 milhão) a mais de 500 mil libras (R$ 3,1 milhões)— para mais de 1 milhão de libras (R$ 6,2 milhões).
Uma das mudanças mais populares da Rolls-Royce é a instalação no teto do carro de uma cena de céu noturno feita com pequenas luzes de fibra óptica reguláveis, permitindo observar as estrelas enquanto é conduzido. Mas alguns clientes querem uma vista noturna mais personalizada.
Um cliente solicitou bordados representando a superfície da lua completa com crateras. Segundo a Rolls-Royce, isso envolveu pelo menos 250 mil pontos individuais, cercados por 1.183 "estrelas" de fibra óptica. Outro casal em Xangai encomendou uma constelação baseada na filha bebê deles e teve uma imagem das pegadas dela embutida no painel branco do carro.
As encomendas personalizadas atingiram "níveis recorde... tanto em volume quanto em valor", disse o chefe da Rolls-Royce, Chris Brownridge. A customização é frequentemente trabalhosa, mas ainda gera margens substancialmente mais altas para as montadoras.
Alguns clientes têm pedidos especiais para o exterior do carro, para combinar com o interior personalizado.
Existem histórias lendárias do setor sobre cores de pintura, desde a equipe da McLaren enviada a um chalé suíço para capturar o tom exato do nascer do sol na neve, até o engenheiro que voltou à fábrica da Bentley em Crewe de trem com as unhas pintadas na cor desejada pelo cliente.
Uma das tendências mais recentes são painéis e acessórios de fibra de carbono. Como material, é resistente, leve e muito caro. Usado sem pintura, sua superfície reflete a luz em diferentes ângulos para criar um efeito cintilante.
"Nossos clientes se importam porque é leve, mas também é bonito", disse Vigna.
Um acabamento em carbono, tanto por dentro quanto por fora, foi visto como outra maneira de deixar sua marca pessoal no veículo, disse ele, acrescentando que a Ferrari foi pega de surpresa no ano passado pela popularidade dessa opção específica.
A empresa teve que fazer mudanças em sua cadeia de suprimentos para lidar com a demanda, disse ele, acrescentando que isso teria sido impensável cinco anos atrás.
No ano passado, um comprador da Bentley gastou 400 mil euros (R$ 2,2 milhões) substituindo grandes seções da carroceria por fibra de carbono, o que fez o preço do carro dobrar.
Outro pediu madeira de sua própria floresta para ser usada no interior de seu novo Bentley, um projeto que fez levar o preço para mais de 2 milhões de euros (R$ 11 milhões).
Na Ferrari, alguns clientes até se sentam com designers com um veículo "base" —como o SF90 de 375 mil libras (R$ 2,4 milhões)— e desenvolvem formas de carroceria inteiramente novas. Um cliente, de uma empresa de tecnologia dos EUA, estudou aerodinâmica e optou por desenhar seu próprio veículo, que a Ferrari fez.
A empresa disse que produz "alguns" carros esportivos assim por ano, nos quais os clientes produzem seu próprio design com base em um modelo existente. O preço chega a "múltiplos milhões".
Mas por que as pessoas se fixaram na customização cara? As montadoras de automóveis têm se tornado melhores para atender a essas exigências, investindo em cadeias de suprimentos e equipes dedicadas. Mas há algo mais em jogo —vários executivos dizem que a tendência é mais pronunciada desde a pandemia.
"A Covid-19 deixou uma mensagem clara —vamos chamar isso de efeito Yolo [só se vive uma vez, na sigla em inglês]," disse Vigna. "Na Itália, dizemos carpe diem. Você ganha dinheiro, pode fazer bons investimentos em ações, títulos, imóveis, mas sua vida útil é limitada, então você também se diverte."
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