Mortes: Lutou pelos direitos das agricultoras do sertão de Pernambuco

Quem andava com Teta pela Serra da Torre, em Araripina (PE), não demorava a ouvir alguém chamá-la de comadre. O título veio das dezenas de afilhados que acumulou na comunidade. É comum no interior nordestino que as mulheres líderes comunitárias sejam convidadas a batizar muitas crianças. Teta foi uma delas.

O rosto sereno e a estatura baixa disfarçavam a força da mulher que cuidava da roça, da casa e ainda arranjava tempo para ajudar os outros. Era firme nas palavras e perfeccionista, queria tudo arrumado.

Maria Soares de Amorim Silva nasceu em Exu (PE), em 1940. Ainda criança, ganhou o apelido de Teta. Foi criada na labuta da roça.

Na juventude, apaixonou-se pelo vizinho José Caetano. Como seu pai "não fazia gosto do namoro", os dois fugiram para o Paraná com um grupo de trabalhadores. Foram se empregar no plantio de café. Lá, nasceram os dois primeiros filhos.

Cinco anos depois, retornaram para Pernambuco e foram morar na serra, onde tiveram outros sete filhos e adotaram mais um.

Teta, que sabia ler e escrever, começou a dar aulas na comunidade. Também trabalhou como costureira e ajudava as pessoas com remédios caseiros.

"Na época, não tinha médico, nem hospital fácil e ela cuidava das pessoas. O acesso à cidade era difícil sem carro. Era ela quem aplicava injeção. Atuava como agente de saúde de forma voluntária", diz a nora Maria Marluce Félix Amorim, 52.

O trabalho comunitário seguiu por toda sua vida. Foi uma das fundadoras da ONG Chapada, que ajuda agricultores familiares na convivência com o semiárido. Entre as ações estão capacitações e construção de cisternas. Teta presidiu a instituição, entre 1999 e 2007, e depois nunca deixou de contribuir.

Também fundou a Associação das Mulheres Agricultoras da Serra Tatu para conseguir projetos para as agricultoras de sua comunidade.

Foi militante do PT em Araripina, onde chegou a ser candidata a vice-prefeita.

Devota de Santa Luzia, estava sempre envolvida nos trabalhos da igreja. Foi catequista e gostava das festas religiosas. "Antes de morrer, dizia para nós que a esperança era ainda dançar um São Gonçalo", conta a nora.

Teta, que sofria de problemas cardíacos, fraturou o fêmur após uma queda e não pôde fazer a cirurgia por conta do coração. Morreu no dia 27 de fevereiro, aos 84 anos, após uma infecção hospitalar, no Crato (CE).

Deixa uma grande família, o marido, 88, e os filhos Maria do Socorro, 61, Raimundo, 60, Francisco, 58, Terezinha, 56, José Ribamar, 55, Verônica, 52, Jucelino, 50, Maria Valdeci, 49, Maria Luiza, 45, e Samuel, 36. Também ficam 31 netos e 10 bisnetos.

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