Artistas indígenas retratam Brasil a partir de conflitos e plumas na Bienal de Veneza

Um menino na aldeia aponta a câmera para a lente que o enquadra, como se levantasse uma arma em sua defesa. E ali ele nos tem como alvo, os espectadores do filme. Esse breve momento da obra de Glicéria Tupinambá, uma entre os três artistas que ocupam o pavilhão brasileiro nesta Bienal de Veneza, sintetiza o que acontece aqui. Quem antes era olhado agora também olha, como sujeito —e também tem muita coisa a dizer, presa na garganta, de gritos de dor a gestos e palavras de força insuspeitada.

O garoto do filme, da mesma forma que outros jovens da aldeia, aprende a tecer redes de pesca, uma técnica que passa de geração em geração, a mesma que antes servia para tecer os vistosos mantos de plumas dos tupinambás.

No pavilhão, Glicéria montou uma grande rede envolvendo a projeção do filme, dois mantos que ela mesma costurou com a ajuda da família e estruturas vazias, os lugares para os mantos que ela chama de invisíveis. Nenhum dos mantos dos ancestrais sobreviveu no Brasil, e hoje há uma dezena deles em museus espalhados pela Europa. É como se a artista mostrasse aqui uma nova geração dessas peças para convocar quem vestiu aquelas que se foram.

Há um ano, Glicéria foi agente central na negociação que levou à devolução do manto tupinambá que estava havia mais de quatro séculos no Nationalmuseet, em Copenhague —neste ano, a peça deve enfim ser entregue ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, em processo de reconstrução depois do trágico incêndio de seis anos atrás.

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