Ecos da guerra

A crise em universidades de elite americanas por causa da guerra na Faixa de Gaza ganhou escala, com prisões e fechamento de campi. Nunca é fácil lidar com protestos de estudantes, mas penso que os dirigentes dessas escolas vêm sendo particularmente inábeis.

Se as universidades apenas seguissem a legislação americana, não haveria dúvida de que manifestações anti-Israel, sendo ou não antissemitas, estão cobertas pelo princípio da liberdade de expressão. A Suprema Corte local já autorizou até marchas nazistas (Skokie, 1977). Mas as universidades não se limitam a cumprir a lei. Elas criam seus próprios códigos de conduta, o que faz sentido. Um pai que paga mais de US$ 50 mil anuais para mandar o filho a uma escola da Ivy League teria motivos para ficar chateado se ela nem tentasse incutir valores éticos a seu rebento.

O problema é que, de uns anos para cá, essas universidades vêm criando regras que colocam a ofensa percebida, algo irredutivelmente subjetivo, como critério para definir o que é ou não permissível. Palavras e expressões tidas por racistas ou anti-LGBT se tornaram tabu. Não gosto desse sistema, mas, se ele fosse aplicado de forma coerente, a crise não teria ganhado tanta temperatura. Só que não foi.

Inicialmente, as autoridades acadêmicas mostraram uma tolerância para com discursos anti-Israel/antissemitas que contrastava com a rapidez com que punem professores e estudantes que violam os consensos identitários que se tornaram prevalentes. Judeus obviamente não gostaram, e grandes doadores ameaçaram abandonar sua generosidade –o que não é ilegítimo. Pressionados, reitores resolveram ser mais ativos na proteção aos alunos judeus, passando para o outro lado a ideia de que são manipulados pelo tal de lobby sionista, o que radicalizou o movimento.

A encrenca está armada. Não creio que seja mais difícil de resolver do que o conflito israelo-palestino, mas vai dar trabalho.

O que você está lendo é [Ecos da guerra].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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