O Véu naufraga em clichês mesmo com Elisabeth Moss

Se realmente estamos no pico da linha de produção do streaming, como apontam alguns executivos e estudiosos da indústria, eis aqui a ilustração perfeita deste cansaço.

Estreou nesta semana na Star+ "O Véu", minissérie de suspense geopolítico do criador de "Peaky Blinders", Steven Knight, na qual Elisabeth Moss é uma agente de inteligência que tenta evitar um atentado terrorista forjando uma amizade com sua principal suspeita (Yumna Marwan).

Os nomes envolvidos na produção e o tema instigante, porém, não entregam mais do que um chamariz.

Os britânicos viram um problema incontornável no falso sotaque britânico de Moss, uma grande atriz que aqui apenas repete com cansaço a expressão algo impávida, algo destroçada por dentro que carregam suas melhores personagens, Peggy ("Mad Men") e June ("O Conto da Aia" ).
Antes o problema fosse o sotaque da protagonista.

"O Véu" é uma espécie de versão liquidificada de outras séries melhores, que em seus pontos mais altos se aproxima de "Homeland" e nos mais baixos parece mais repeteco de qualquer comédia ou drama encabeçado por uma dupla de pessoas sem nada em comum —só não espere nada no nível de "True Detective", "Killing Eve", "The Killing", "Treta", e nem mesmo de "Two and a Half Men".

Moss é Imogen, uma agente do MI6 encarregada de impedir uma suposta terrorista do Estado Islâmico de concretizar um atentado em uma grande cidade ocidental, talvez na Europa, talvez nos EUA.

Ela encontra seu alvo, Adilah el Idrissi (Marwan, a melhor coisa da série), em um campo de refugiados na Síria e a ajuda a fugir da turba furiosa que pretende puni-la pelos crimes da facção sanguinária sob vistas grossas de funcionários humanitários
bizarramente vingativos.

As duas embarcam em uma fuga pelas estradas turcas, rumo à Europa, em um convívio forçado que alimenta a animosidade e também o laço entre elas (se você pensou na fuga de June e Serena Joy em "O

Conto da Aia", bingo, é um arremedo, sim). Adilah afirma categoricamente que é soldado raso e não é a chefe de facção que a acusam de ser; Imogen esconde sua história, revisitada em flasbacks, e as duas só podem estar mentindo.

Mas a trama é rocambolesca demais, e bebe em clichês demais para realmente entreter. Há o agente americano metido a sabe-tudo (Josh Charles), há o amante franco-argelino que Imogen mantém no serviço secreto em Paris e há toda sorte de figuras carimbadas nesse tipo de trama.

Nenhum personagem oferece alguma complexidade, e, à parte as paisagens nevadas da Anatólia, o que aparece na tela não enche os olhos.

O roteiro se perde entre a ação mais descompromissada e o suspense geopolítico, sem investir em nenhum dos dois. Os diálogos são repetitivos, e se há um mistério por trás das protagonistas o espectador não consegue se interessar por descobri-lo.

A desgraça toda causada pelo Estado Islâmico é um pano de fundo opaco, e os refugiados da tenebrosa e esquecida guerra civil na Síria não são mais do que uma massa difusa retratada sem empatia.

Pode servir para passar o tempo até a estreia da temporada final de "Conto da Aia", que só chega no ano que vem, ou, vá lá, para matar as saudades de "Homeland".

Não mais que isso.

Os dois primeiros episódios de "O Véu" estão disponíveis no Star+, e os quatro seguintes serão lançados nas próximas terças-feiras.

O que você está lendo é [O Véu naufraga em clichês mesmo com Elisabeth Moss].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...