Damos amor aos nossos filhos, mas será que lhes estamos a dar os melhores alimentos? - Peso e Nutriç&a

Não raro, convictos de que estamos a mimar os nossos filhos com bons e nutritivos alimentos, acabamos por ser confrontados com práticas alimentares erradas. A perceção daquilo que entendemos como bons alimentos pode ser induzida por mensagens publicitárias bem construídas, pensadas para nos levar a considerar que alguns alimentos são nutricionalmente ricos. Na realidade não o são, e explicamos porquê.

💥️Vejamos, caso a caso, alguns exemplos:

💥️Fruta de espremer, fruta líquida, sumos ou purés de fruta

Um alimento processado nunca substitui ou equivale a um alimento no seu estado em natureza.

Mesmo que alegadamente o conteúdo nutricional seja o mesmo, o comportamento metabólico no organismo, o modo como é digerido e processado não é o mesmo e isso faz uma enorme diferença na forma como o nosso organismo utiliza os nutrientes.

Por outro lado, estes alimentos já se encontram mastigados, o que faz com que o processo digestivo, a sensação de saciedade, a resposta glicémica, sejam diferentes.

💥️Em suma, a fruta deve ser consumida como fruta.

💥️Hambúrgueres, salsichas e ´douradinhos`

Vejamos o caso dos hambúrgueres, ´douradinhos`, salsichas, almôndegas e outro tipo de alimentos processados, pré-preparados, à base de carne picada ou de pescado desfeito.

As crianças, durante o primeiro ano de vida, devem experimentar uma grande variedade de alimentos, onde se incluem os diferentes hortícolas (brócolos, curgete, couves, cenoura, abóbora, beringela, feijão verde, espinafres, as leguminosas (feijão, grão, lentilhas, favas), cereais (arroz, massa, pão), frutas, carnes, pescado, lacticínios.

Quando os pequenos chegam ao primeiro ano de vida, e já tendo experimentado toda esta variedade de alimentos, a sua alimentação deve ser igual à alimentação da família, podendo consumir todo o tipo de preparações culinárias, assumindo naturalmente, um padrão alimentar saudável, onde se privilegiam os alimentos de origem vegetal.

Com frequência, crianças já com três, quatro, cinco, ou mais anos, ingerem alimentos “mastigados”, como hambúrgueres, salsichas, almôndegas. Esta é uma má prática, pois a mastigação é uma competência que importa desenvolver e, por outro lado, este tipo de alimentos escondem muitas vezes ingredientes como sal, aditivos, ou outros com nenhum interesse nutricional.

💥️Constituem ainda uma visão limitada e pouco abrangente da alimentação que deve ser rica e diversificada, proporcionado não apenas o fornecimento adequado de nutrientes, mas também uma cultura alimentar alargada e abrangente.

💥️Chocolates de leite, mesmo os que referem mensagens como “mais leite e menos cacau”

Nunca o consumo deste tipo de alimentos substitui o consumo de leite ou contém uma quantidade de leite que seja relevante.

Abaixo, encontra o comparativo entre uma barrinha de chocolate de leite e um copo de leite:

💥️Comparemos uma barrinha de chocolate de leite (“mais leite do que cacau”), com aproximadamente 12,5 g, com um copo de leite, com capacidade para 200 ml, para obtermos os valores que assinalamos abaixo:

💥️Barrinha de chocolate de leite:

- 71 Kcal

- 6,7 g HC, dos quais 6,7 açúcares

- 4,4 g lípidos, dos quais 2,8 saturados

- 1,1 g proteína

- 💥️4% de leite

💥️Copo de leite:

- 94 Kcal

- 9,8 g HC, dos quais 9,8 açúcares

- 3,2 g lípidos, dos quais 1,8 saturados

- 6,6 g proteína

- 💥️100% leite

💥️Bolachas, biscoitos, incluindo as versões “para criança”, “sem glúten”, sem açúcares e similares

💥️Estes produtos, nas suas inúmeras variedades são na verdade, todos iguais. Se têm menos açúcar, têm mais gordura, se têm menos gordura, têm mais açúcar ou outro nutriente. Se compararmos o valor energético, por 100 g, variam entre as quase 400 às 500 Kcal e esta diferença por 100g, esbate-se quando se compara o valor por dose/porção, que ronda as 20 a 30 kcal.

Quando for às compras, veja a que é que corresponde uma dose e verifique se é realmente só isso que come de cada vez. 💥️O que importa saber é que três a quatro bolachas correspondem a um pão com 50 g (uma bola ou carcaça).

Se pensar e experimentar a saciedade de um pão ou de quatro bolachas, verá que é completamente diferente. Ficamos muitos mais saciados e por mais tempo com o pão.

Para além disto, voltamos à questão do processamento. O pão tradicional é um alimento minimamente processado, as bolachas são alimentos muito processados com IG elevado. Mesmo as que não têm açúcar, possuem sempre farinha, com um processamento que faz com que estas se comportem como açúcares, com uma velocidade de absorção muito mais rápida do que o bom pão tradicional.


Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.

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