Padre Assis: 'Meu Cristo tem cabelo crespo, é do povão e anda por favelas'

Ivaldino de Assis Mendes Tavares já perdeu as contas de quantas vezes foi parado por policiais. E a cena sempre se repete: quando perguntam o que ele faz da vida, a resposta gera risadas. Nascido em Cabo Verde, país no noroeste da África, Assis saiu de casa para estudar fora aos 17 anos. Voltou em 2012 apenas para completar sua ordenação como padre. E logo veio para o Brasil.

Ele explica que uma junção de fatos o levou a se tornar padre. Assis vem de uma família católica, fez partes de grupos de igreja e sempre acompanhou os trabalhos humanitários que seus tios faziam. Ao longo do tempo, percebeu que queria trabalhar com questões sociais e resolveu unir também a fé em prol das populações mais vulneráveis.

Relacionadas

Hoje, por mais que se descreva como um "homem católico normal", padre Assis quebra estereótipos ao apresentar um outro lado do catolicismo, nem sempre conhecido.

O padre está no Brasil desde 2013 e faz parte da congregação Missionários do Espírito Santo, da Igreja Católica.

Foram muitos os caminhos que o trouxeram até a zona leste de São Paulo (SP), desde sua formação em filosofia em Lisboa, o mestrado na França, sua ordenação e suas vivências em Tefé, no meio da floresta amazônica.

Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL

Lá, para além das rezas e conversas, Assis faz um pouco de tudo e se coloca à disposição quando necessitam.

Em 2023, uma enchente atingiu mais de 500 famílias na região e sua casa virou abrigo para as pessoas que ficaram sem ter para onde ir.

"Ele não mede esforços para ajudar e fazer o bem ao próximo", relata Raquel Maria dos Santos Soledade, moradora do Favelão, frequentadora da igreja e que acompanhou tudo de perto.

"A enchente foi no domingo. Na segunda-feira ele passou de casa em casa, sentiu como se fosse na casa dele. E depois foi atrás de doações de alimentos, móveis, roupas, higiene pessoal para as famílias que tinham perdido tudo", acrescenta.

Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL  Na foto, Padre Assis em sua casa, na Vila Prudente, com amigos brasileiros e imigrantes de Moçambique - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis Tavares - Keiny Andrade/ysoke - Keiny Andrade/UOL Padre Assis Tavares

A importância do trabalho de 'formiguinha'

Apesar de toda sua dedicação individual, o padre é modesto e conta que é a união das pessoas nas comunidades que realmente garante a melhora e transformação da região. "Somos retalhos, cada um somando um pouco. Eu faço a minha parte", diz.

"Todo dia que acordo e tento fazer o bem e dormir fazendo o bem, é meu papel não como cristão mas simplesmente como Assis, que acredita na humanidade, que acredita que uma nova civilização do amor ainda é possível, que acredita que podemos viver no mundo, como dizia Rosa Luxemburgo, onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres", diz.

Mas, nas convivências diárias com pessoas marginalizadas, Assis percebeu que apenas a fé e a religião não bastavam para fazer a diferença na vida do outro.

"Quando você está sempre em sintonia com a cadeia, escuta as injustiças, vê as coisas nas ruas, você vê que não é o suficiente para mudar a realidade."

Por isso, aos 35 anos de idade, resolveu estudar direito e hoje está no quinto semestre na Universidade São Judas Tadeu. "Preciso me armar com as ferramentas do próprio Estado", explica sua decisão. "Não dá pra mudar o mundo, mas dá pra fazer trabalho de formiguinha sim", acrescenta.

"Se somos uma igreja que serve, então precisamos estar com o povo, no meio do povo, a serviço do povo. Não é assistencialismo, não é caridade, é simplesmente a presença, porque a gente acredita que Deus também habita esses becos e vielas"

💥️Padre Asiss

O que você está lendo é [Padre Assis: 'Meu Cristo tem cabelo crespo, é do povão e anda por favelas' ].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...