O café é delas! Na marra, mulheres conquistam o mundo dos grãos especiais

Flávia G Pinho

Colaboração para Nossa

07/05/2023 04h00

Teimosa que só, Sandra realizou o sonho na marra. Em terras arrendadas, começou a plantar em São Gonçalo do Sapucaí, sul de Minas Gerais, enquanto estudava sobre plantio de café. Em todos os ambientes, enfrentou atitudes machistas. "Os funcionários me boicotavam, não respeitavam minhas determinações. Quando ia vender o café na cooperativa, me perguntavam 'a senhora é esposa de quem?' ou 'quem é seu patrão?'", ela conta.

Muita coisa mudou desde então. Mais de duas décadas depois, o Brasil está surfando bonito na terceira onda do café, nome que se dá ao movimento de valorização dos cafés especiais. Vimos muitas cafeterias abrindo as portas pelo país, cafés e baristas brasileiros vencendo competições internacionais. Mas as mulheres continuam tendo de brigar por seus espaços.

Em São Paulo, cinco profissionais se uniram para enfrentar o machismo no mundo do café e fundaram, em março, o grupo Minas que Torram. Cinthia Bracco, proprietária do Astronauta Café, se juntou a Nayra Caldas, do Joana Café, Regina Machado, do Tear Cafés, Camila Natario, do Cafehafen, e Carolina Pereira, do Bixo Café.

Camila Natario, do Cafehafen - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram

Julia Fortini

Entende tanto do assunto, da planta à xícara, que parece ter café correndo nas veias. Mas, volta e meia, se vê excluída das panelinhas.

No início da carreira, sentia que precisava comprovar a minha trajetória como profissional do café para que me levassem a sério. O backstage de um campeonato pode ser intimidador. Os homens são maioria e algumas mulheres, que estão começando, podem se sentir isoladas."

Uma das precursoras no meio, Gelma Franco fundou a rede Il Barista em 2003 e viu de perto todo esse movimento acontecer. Lembra que viu muita filha e esposa de cafeicultor tendo de assumir cafezais na marra, sem qualquer preparo, e conseguir chegar lá. Os números não mentem.

"Das 300 mil propriedades rurais que temos no Brasil, somente 2% tinham mulheres gestoras em 2010. Em 2022, esse índice já tinha pulado para 18%", compara. A briga está longe do fim, ela diz, mas ninguém larga a mão de ninguém.

Mulher é assim. Quando a gente cisma com uma coisa, não sossega até conseguir."

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