Aguapé cobre Rio Tietê, impede navegação turística e muda festa em SP

O fenômeno se repete: barco com duas ocupantes chegou a ficar preso em meio ao aguapé na região de Barra Bonita no ano passado - Hélio Palmezan/ONG Mãe Natureza

José Maria Tomazela

do Estadão Conteúdo

23/05/2023 10h02

Oito navios de cinco empresas operam a navegação turística na região. Juntas, as embarcações têm capacidade para levar três mil passageiros por dia, mas o movimento maior é nos finais de semana. Antes da pandemia de covid-19, ao menos 250 mil turistas faziam os passeios de barco anualmente. Uma das atrações dos passeios é a passagem pela eclusa da Hidrelétrica de Barra Bonita, vencendo um desnível de 26 metros para chegar ao reservatório de Anhembi, formado pelo represamento das águas do Tietê.

O jornalista Carlos Nascimento (ex-Rede Globo, ex-SBT), que se tornou armador fluvial e possui um navio de turismo em Barra Bonita, conta que a eclusa opera de forma muito irregular há meses devido ao excesso de plantas aquáticas. "As embarcações entram na eclusa, sobem, descem e saem à ré, pois não é possível, salvo um dia ou outro, sair à montante. O lago de Barra Bonita ficou bastante comprometido e, no município de Anhembi, a navegação é impraticável", disse.

O problema dos aguapés se estende às eclusas de Bariri, Ibitinga e à região de Araçatuba, em uma extensão de mais de 350 quilômetros. Nascimento integra um grupo de trabalho criado para discutir o problema das plantas aquáticas. O grupo, que tem também outros armadores, representantes das prefeituras da região, da AES Brasil e pesquisadores de universidades, se reúne mensalmente no Homero Krähenbühl, o barco de Nascimento, para tratar deste assunto.

O deslocamento das "ilhas" de aguapés rio abaixo afeta a navegação pela hidrovia Tietê-Paraná

Para a ambientalista Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlânticas, o problema do acúmulo de plantas e algas pode ser amenizado com a diminuição no lançamento de nutrientes que vêm da agricultura no Tietê e afluentes. "Com a mecanização da cultura de cana-de-açúcar, foi mudado o sistema de terraceamento para que as máquinas gigantescas pudessem passar. Sem as curvas de nível, os fertilizantes são carreados para os reservatórios. Quando há variação de temperatura, formam-se mais algas que competem com o oxigênio para os peixes, além de se tornarem tóxicas", explicou.

Uma das saídas é diminuir o carreamento dos defensivos ricos em fosfatos para que não se acumulem nos reservatórios. "Hoje, o grande vilão dos reservatórios não é, tanto, mais o esgoto doméstico, mas essas cargas inorgânicas provenientes da agricultura que alimenta, as plantas aquáticas. É preciso recuperar as matas ciliares para evitar que esses defensivos sejam carreados para os rios. Muitas vezes a cana-de-açúcar chega até a margem do rio. É isso que está matando essas águas."

A AES Brasil informou que o aguapé faz parte de um conjunto de plantas aquáticas que surgem ao longo dos cursos d'água, incluindo os reservatórios. "Quando há o acúmulo dessas plantas próximas às barragens, a empresa realiza a transposição da vegetação, por meio da abertura das comportas dos reservatórios para permitir que a vegetação siga o fluxo natural do rio."

A AES possui programação aprovada pelo Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS) para a transposição da vegetação aquática. Segundo a empresa, esse tipo de manobra é feito periodicamente pela AES, sempre mediante autorização do ONS. "A empresa ainda reforça que a operação de transposição da vegetação também depende de condições climáticas favoráveis (vento a favor) para que o resultado da manobra seja efetivo", disse, em nota.

O governo do estado informou que a Companhia de Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) monitora trimestralmente a qualidade das águas do reservatório de Barra Bonita em dois pontos: um após a junção do Rio Piracicaba com o braço do Tietê e outro no corpo central, a 9 km da barragem. Na amostragem de janeiro de 2023, os resultados de fósforo apresentaram concentrações que propiciam o crescimento das plantas aquáticas.

Os resultados da medição de abril ainda estão em processamento nos laboratórios. "O fósforo no reservatório é proveniente, especialmente, das duas maiores regiões metropolitanas do Estado, por onde passam os rios Tietê e Piracicaba, formadores desse reservatório. O uso e ocupação atuais do solo contribuem para o aumento desse nutriente, vindo de fontes difusas e pontuais", disse, em nota.

Com relação ao controle e fiscalização dos lançamentos de efluentes domésticos e industriais, a Cetesb informou que vem trabalhando a nível estadual, exigindo o atendimento à legislação ambiental. "Nos últimos anos, o índice de tratamento de esgoto no Estado de São Paulo vem aumentando", disse.

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