Ziraldo usou humor como arma contra a ditadura no Pasquim
Um homem que se escora com um braço numa parede, que é a própria margem do desenho, está perpassado por um facão –ou uma espada– que lhe foi cravada nas costas e vazou pelo seu tórax. Com uma expressão dolorida e de certa forma estóica, o personagem explica para quem o observa: "Só dói quando eu rio".
A charge icônica de Ziraldo Alves Pinto, publicada no semanário O Pasquim, é uma dolorosa metáfora de uma época. Expressa não apenas a opressão política promovida pela ditadura militar como também a situação existencial daquele tempo, o modo como a atmosfera sufocante se materializava no corpo e no ânimo –ou no desânimo– de quem tentava sobreviver ao cerco que se impunha às liberdades.
Tratando-se de um chargista, que dedicou grande parte de sua obra ao humor, o cartum se revestia de significados também autobiográficos. Como situar o riso, essa reação tão humana, num contexto que seria, na realidade, de chorar?
A aparente contradição, com toda sua dimensão trágica, foi enfrentada pelo artista e explorada de maneira surpreendente e brilhante pelo grupo de chargistas do Pasquim, que reunia, entre outros, craques como Jaguar, Fortuna, Henfil, Claudius e Millôr Fernandes.
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