Entenda por que a inflação de serviços virou ponto de alerta para o BC

A inflação do setor de serviços virou motivo de alerta para o BC (Banco Central) ao mostrar sinais de persistência com o mercado de trabalho ainda aquecido no início deste ano no Brasil, dizem economistas.

Segundo eles, o comportamento desses preços pode tornar mais lento o processo de desinflação como um todo e, consequentemente, frear o ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic).

"Os serviços mais pressionados não mudam dramaticamente o cenário. O que eles fazem é que a taxa de juros, que poderia ser eventualmente um pouco menor, não tenha condições para isso", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Em fevereiro, o índice oficial de preços do Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), registrou alta de 4,50% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No mesmo período, o IPCA de serviços acumulou avanço superior, calculado pelo instituto em 5,25%. O índice de inflação do setor é composto por subitens diversos do IPCA, como alimentação fora de casa, aluguel, passagem aérea, transportes e serviços médicos.

Conforme economistas, ainda há pressões dos chamados serviços subjacentes, que excluem preços mais voláteis e que são acompanhados pelo BC na hora de definir o patamar da taxa de juros.

Os dados do IPCA de março serão divulgados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE.

Quando o BC resolve cortar a Selic, como vem fazendo desde agosto, tenta estimular a demanda por bens e serviços, porque o crédito tende a ficar mais barato.

A questão é que o mercado de trabalho segue dando sinais de força, algo positivo para o trabalhador, mas que pode pressionar os preços em razão da demanda aquecida, conforme economistas. O próprio BC já sinalizou essa preocupação.

A incerteza sobre a velocidade do processo de queda da inflação requer mais flexibilidade e, na avaliação de alguns membros do Copom (Comitê de Política Monetária), pode levar a um ritmo de corte de juros mais lento à frente, conforme ata divulgada pela instituição no dia 26 de março.

"A ata registra um fato difícil de contestar: há um mercado de trabalho relativamente apertado e inflação de serviços um pouco mais alta", disse no dia 4 de abril o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo.

A Selic está em 10,75% ao ano. Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam taxa de 9% ao final de 2024, segundo a edição mais recente do boletim Focus, divulgada nesta terça-feira (9) pelo BC.

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Andrea Damico, economista-chefe da gestora Armor Capital, diz que, no início deste ano, a inflação de serviços foi pressionada, em parte, por reajustes sazonais.

"Tem um componente de uma certa pontualidade, o médico que reajusta o valor da consulta uma vez por ano, o cabeleireiro que reajusta o corte de cabelo uma vez por ano", afirma.

Ela, contudo, diz que a "dúvida" do BC sobre o eventual impacto do mercado de trabalho é "genuína".

De acordo com a economista, a tendência é de uma desaceleração da inflação de serviços no segundo trimestre com a perspectiva de alguma perda de fôlego do mercado de trabalho.

Apesar disso, Damico ainda prevê alta de 4,8% para o IPCA de serviços em 2024. Para o índice geral de preços, a variação projetada deve passar de 3,6% para 3,45% em razão do possível comportamento das tarifas de energia elétrica, segundo a economista.

Em 2024, o centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado deste ano.

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