Quantas vezes devo correr por semana?

Uma das perguntas que todos os que começam a correr esperam ver respondida é qual a assiduidade ideal, qual a posologia ótima da corrida. Duas, três, cinco vezes por semana? Todos os dias?

Feliz ou infelizmente, a resposta não é unívoca. Depende de cada corredor.

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É possível ter ideias gerais de quanto se está a ganhar de condicionamento, de quanto de esforço é demasiado e, menos imprecisamente, de qual é o tamanho do prazer envolvido. Mas a resposta à pergunta inicial segue tremendamente subjetiva.

Tentemos então comer pelas beiradas.

Ainda que eu não consiga conceber a corrida unicamente como um instrumento para algo, ela pode sim se prestar para certos fins.

Saída do sedentarismo; melhora do condicionamento; ânimo para o trabalho; perda de peso; conquista de novos amigos; libertação das redes sociais –ou não, haja vista a quantidade de pessoas que postam seus percursos e provas.

Todos esses ganhos podem vir com três práticas semanais, a dosagem canônica das assessorias de corrida.

Mas a corrida, como qualquer atividade física, deveria fazer parte da rotina normal, diária, de todos nós. Compartilho da ideia do educador Nuno Cobra, para quem a atividade física é um dos três pilares do bom funcionamento do nosso corpo, junto com a alimentação e o sono.

Ou seja: ela deveria ser tão natural e corriqueira como comer (bem, espera-se) e dormir. Se comemos e dormimos todos os dias, deveríamos mexermo-nos todos os dias.

A corrida hoje em dia não é muito natural para ninguém, exceto talvez para os tarahumaras, os famosos indígenas corredores do México, que, para dar conta de suas obrigações diárias, precisam vencer dezenas de quilômetros em meio a escarpas e montanhas, e por isso correm.

(Ninguém perguntou, mas segura: eles não usam tênis, preferem uma fina alpercata caseira.)

Se é importante e recompensador tornar rotineira, se possível diária, a atividade física, no nosso caso a corrida, vale este pequeno truísmo: corra se você descobrir que realmente gosta de correr.

Nem sempre admitimos que não estamos a gostar de algo que fazemos, digamos, voluntariamente. Na minha adolescência, demorei dois meses para abortar o cigarro, algo que, se bem me lembro, me dava prazer zero.

(Devo ter sido um dos últimos idiotas da geração que achou legal a forma ogival na embalagem do Marlboro e o argumento de que aquilo levava o consumidor para cima.)

"Gosto de correr?" é a primeira pergunta que o cabra deve se fazer.

E sim, só dá para saber experimentando.

Com tudo isso, cumpre dizer: nem o maior evangelista da corrida irá discordar da constatação de que ela faz muito pouco, ou nada, pelos membros superiores. Até mesmo certos músculos das pernas, aqueles estimulados na cadeira abdutora, por exemplo, ficam de fora.

Por isso é ótimo mesclar a corrida com outras paradas, musculação, natação, pilates, treinamento funcional com alguma ênfase nos braços.

Mas se você não tem paciência para nada disso e a corrida lhe dá prazer e uma disposição absurda para o dia a dia, pode tentar encarar a monocultura. É bom saber, contudo, que é recomendável rodar a plantação para não cansar demais a terra.

Uma leitora desta Folha me informa que há testes de DNA que ajudam a mapear a vocação para a atividade física. Taca-le pau.

De minha parte, não acho que conhecer a própria predisposição genética seja muito mais valioso do que seguir a velha recomendação que Don Juan dá ao escritor Carlos Castañeda, quando este lhe pergunta, na abertura de "A Erva do Diabo", como irá conseguirá dormir, diretamente sobre o chão, na soleira da casa do velho xamã:

"Descubra seu ponto."

O que você está lendo é [Quantas vezes devo correr por semana?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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