Filme Uma Baía mostra que continua bela e banguela a Guanabara

"O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara/ O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara/ Pareceu-lhe uma boca banguela."

Em 1988, Caetano Veloso flagrou, na canção "O Estrangeiro", a existência ambígua da poça de água cinzenta que desvirgina o Rio de Janeiro. Penetrando nela, os europeus alcançaram terra à vista e deixaram seus rastros ali, maculando a natureza intocada. Assim, se inaugurou uma metrópole cindida.

É permanente a tensão entre a paisagem estonteante, à que Gauguin se referiu, e a matéria impermanente que se acumula às suas margens. O lodo carrega o lixo —latas, pneus, barracos. A ponte Rio-Niterói precisa balançar para se manter de pé. A dualidade diluída em água está em cartaz em forma de filme.

"Uma Baía", de Murilo Salles, que ganhou há três anos os prêmios de melhor direção e melhor montagem no Festival do Rio, examina a boca banguela. O documentário de quase duas horas prefere o silêncio para atingir o real. A câmera é o olho do homem.

Tomadas em close se unem a planos abertos —o detalhe de um caranguejo rompendo o saco de um catador contra o timoneiro singrando o barco em pleno pôr do sol. O close escrutina as coisas, enquanto o plano aberto contempla as pessoas que rompem a realidade.

O que você está lendo é [Filme Uma Baía mostra que continua bela e banguela a Guanabara].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...