Vitória da educação cidadã: ribeirinhos da Amazônia barram garimpo ilegal

Uma balsa de garimpo ilegal adentrou o Rio Juruá no último mês de novembro, e a articulação da comunidade veio rapidamente em denúncia ao Ministério Público e aos demais órgãos de fiscalização. A força política que circunda este território levou à implosão da balsa, apreensão de combustível e de embarcações criminosas.

Essas comunidades ribeirinhas passaram por um amplo processo de formação política nos últimos 30 anos, hoje representado por diversas associações, cooperativas e lideranças. Ao longo desse período, se fortaleceram, estruturaram algumas cadeias produtivas da sociobiodiversidade e acessaram importantes mercados e fontes de recursos, inclusive investidores de impacto.

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1 - HUMANA/Divulgação - HUMANA/Divulgação 2 - HUMANA/Divulgação - HUMANA/Divulgação Comunidade de Jaíba, cidade no interior de Minas Gerais

A quase 3 mil quilômetros de lá, um outro caso ajuda a refletir sobre o alcance da participação social como parte do exercício da política. Ao longo deste acirrado ano eleitoral, uma cidade no norte de Minas Gerais experimentou o intenso processo participativo que levou a uma Agenda de Desenvolvimento Local. Para muitos, a primeira experiência com um modelo de construção coletiva.

A polarização política do país teve grande reflexo em Jaíba (MG), como em muitos pequenos municípios do país, mas isso não impediu que mais de 80 representantes de diversos setores da cidade se juntassem para pensar as prioridades locais. Cada qual com sua escolha política, mas com o desejo conjunto de ver a cidade prosperar. O segundo ponto prevaleceu: todos estavam dispostos a discutir o desenvolvimento local de forma madura e consistente.

Casos como estes dois demonstram, na prática, a força dos espaços de participação qualificados. São neles que acontecem as articulações entre atores diversos e onde se complementam a democracia participativa e a representativa, uma fortalecendo a outra.

A educação cidadã é um caminho inevitável. A lição que fica dessa história é como os espaços de participação qualificados são ótimas oportunidades para que as comunidades desenvolvam tal habilidade, de forma equânime e aderente à realidade das pessoas que vivem no lugar. Com isso, mais cidadãos têm maior conhecimento sobre as regras da democracia e da dinâmica política.

Não há vida sem correção, sem retificação, já dizia Paulo Freire. Somos constituídos da história e ela nos atravessa. É assim que passamos a pertencer a um lugar, a uma sociedade, a um país.

O que vivemos nesses últimos 4 anos não tem precedentes. Fomos confrontados por paradigmas ultrapassados, muitas vezes criminosos, que impactaram a vida de todos nós brasileiros, queiramos ou não. Fizemos inúmeras perguntas ao longo desse período. Como pudemos chegar até aqui? O que aconteceu com o país (e com as pessoas)? O que eu posso fazer para mudar essa situação?

Muitas pistas, constatações e reflexões foram incisivamente elaboradas por muitos especialistas em ciências sociais, história e política, por cada um de nós e, como provavelmente nunca antes experimentado, dentro de cada uma das famílias brasileiras. Pelo voto da maioria, o governo mudou. Estamos vivendo dois meses de transição, no sentido mais literal da palavra.

Mas, e daqui para frente, quais são as perspectivas? O que podemos fazer para construirmos nesses 4 anos um caminho de transição cidadã que impeça novos retrocessos? São muitas as perguntas a serem respondidas em pouco tempo, fazendo da ação-reflexão nosso guia cotidiano, incansavelmente, até 2026.

Carol Ayres é historiadora e mestre em História Social pela PUC-SP. É sócia fundadora da Humana, agência especializada em desenvolvimento territorial e sustentabilidade. Com mais de vinte anos de experiência em desenvolvimento territorial, atua com estratégias participativas de governança territorial em todo Brasil.

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