Nova política de verificação do Twitter coloca vida de ativistas em risco

a favela da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Iniciei minha atuação denunciando as inúmeras operações policiais que ocorrem periodicamente, mas💥lidar com a pauta da segurança pública sendo uma jornalista de dentro da favela me colocou em inúmeros riscos. 💥️Um deles é em relação às diversas ameaças que sofro quase diariamente nas redes sociais.

Em 2018, lancei o livro "Militarização e Censura: a luta por liberdade de expressão na favela da Maré", publicação que é parte de um trabalho de investigação e denúncia que fiz junto a outros comunicadores durante 2014, ano em que o exército invadiu a Maré e permaneceu por aqui durante um ano e quatro meses.

💥️Por conta dessa atuação, sofri as mais variadas ameaças, tentativas de silenciamento e intimidações nas redes. Foi nesta época que clonaram alguns perfis de redes sociais pessoais e a do próprio coletivo de comunicação que atuávamos. Só no Facebook foram oito perfis pessoais clonados. Eu criava um e, logo, invadiam. E, assim foi, por muitos anos. Por causa disso eu diminuí a minha atuação nas redes sociais, não utilizava mais com tanta frequência nem os perfis que fiz ao longo dos anos. Isso no Facebook, Instagram e Twitter.

Mas em 2023, com a chegada da pandemia da covid-19, junto a outros comunicadores comunitários da Maré, começamos uma mobilização social e comunitária para disseminar notícias combatendo as fake news que estavam circulando. Com o passar do tempo, uma outra frente de arrecadação de alimentos. 💥️Chegamos a atender 4.500 famílias da Maré, só em 2023. Desta vez, resolvi voltar para as redes sociais e participei de inúmeras lives para falar sobre os impactos da pandemia dentro das favelas e periferias do Rio.

A partir disso, com a visibilidade, novamente começam a surgir diversos perfis falsos meus, sem contar os ataques diários que eu sofria.💥️ Certa vez recebi ameaças de estupros. Outras vezes, ameaças de morte e tantas outras tentativas de silenciamento.💥️ Em meados de 2023, tive e-mails, celulares e até mesmo contas de bancos invadidas.

Com tamanhas ameaças e intimidações passei a ser atendida por organizações de direitos humanos do Brasil e outras internacionais. 💥️Depois de muitas avaliações de risco, resolvemos solicitar as verificações das minhas páginas nas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram. Todos foram verificados depois de reuniões com as empresas de comunicação.💥

Hoje, com a retirada das verificações no Twitter, me preocupa não conseguirem identificar o meu perfil com os mais diversos perfis fakes que fazem com o meu nome e minhas fotos. 💥️Ter as verificações nas minhas redes sociais serve para que as pessoas consigam saber quais são as minhas redes sociais e consigam identificar novos perfis falsos que surgem nas mais diferentes plataformas.

Para além desta preocupação com a identificação das minhas próprias redes, o que mais me impacta é entender que a cada surgimento de fakes isso não só me silencia e faz eu diminuir minha atuação enquanto jornalista antirracista, comunicadora e defensora de direitos humanos. Sem contar a questão psicológica, já que a cada novo fake, sempre preciso ir na plataforma denunciá-los, e ainda publicar nas minhas redes a cada chegada de novo perfil falso. Isto, para além de ser uma tentativa de silenciamento, sofro um impacto psíquico, já que é sempre a mesma rotina de cuidados.

O mais difícil é não saber de onde vem os ataques, é entender que as empresas de comunicação conseguem controlar algoritmos de nós defensores de direitos humanos, conseguem diminuir nosso alcance nas redes sociais, mas não conseguem controlar quem produz tantos perfis fakes e até mesmo protege e ajuda a propagar fake news, como foi o caso da pandemia.

Sobre a autora: Gizele Martins - Comunicadora Comunitária. Jornalista (Puc-Rio). Mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas (UERJ). Doutoranda em Comunicação (ECO/UFRJ). Em 2023 lançou o livro: Militarização e censura - a luta por liberdade de expressão na Favela da Maré. Articuladora da Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadoras/es. Ganhadora de inúmeros prêmios pela produção de um jornalismo voltado para a pauta dos direitos humanos e da favela. Atua na Frente de Mobilização da Maré. Compõe a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas.

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