Extermínio de civis em Gaza é impostura para judeus e ataque a Israel

Há dez anos, em julho de 2014, o coreógrafo e bailarino israelense Arkadi Zaides apresentou o solo "Arquivo" no programa oficial do festival de Avignon. Assisti ao espetáculo e escrevi sobre ele no mesmo dia em que, em meio à escalada do conflito entre Israel e o Hamas, o Libération publicou uma coluna de opinião do escritor israelense David Grossman, com o título "A direita não venceu apenas a esquerda, ela venceu Israel".

Grossman atribuía ao governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu a traição da própria razão de ser de Israel: "É revoltante a ideia de que a enorme potência militar de Israel não seja capaz de lhe insuflar coragem para vencer seu medo e seu desespero existenciais e dar um passo decisivo na direção da paz. A ideia essencial na origem da criação do Estado de Israel não era que o povo judeu retornaria ao seu lar e que aí não seria mais vítima de ninguém? Que nunca mais ficaríamos paralisados e sujeitos a forças superiores às nossas?".

"Pois vejam o espetáculo que apresentamos: o Estado mais forte da região, uma potência em escala regional, gozando do apoio quase incompreensível dos Estados Unidos e do compromisso da Alemanha, da Inglaterra e da França, ainda se considera, no fundo, uma vítima abandonada por todos. E continua se conduzindo como vítima: de seus medos, reais ou imaginários, dos horrores de sua história, dos erros de seus vizinhos e de seus inimigos."

Voltei a esse texto por curiosidade, querendo saber o que andaria fazendo Arkadi Zaides a propósito da guerra em Gaza. Zaides trabalha com dança documental. "Arquivo" me marcou para sempre. Sozinho em cena, assistindo junto com o público às imagens que, projetadas no fundo do palco, expõem a violência de colonos judeus contra palestinos nos territórios ocupados, o coreógrafo e bailarino de repente começa a imitar o movimento de seus compatriotas.

É um espetáculo perturbador. A princípio, Zaides hesita em emular os gestos da violência dos colonos. Pouco a pouco, entretanto, toma gosto na imitação convulsiva e mecânica. A repetição da violência sem sentido, fora de contexto, é insuportável. Alguns espectadores abandonam a sala revoltados.

Num mundo de inversões morais, onde a condenação da violência não tem outro efeito além de expor a paralisia de quem a condena, só a insistência na falta de sentido desses gestos reduzidos à repetição parece capaz de desestabilizar a normalidade dos ataques.

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