Dá para sentir inveja de quem começa a beber vinho hoje

Se você está começando a beber vinho agora, eu tenho inveja de você. É verdade que, quando comecei, gastei menos por cada tacinha descompromissada. Mas também é verdade que bebi pior.

Há 20 anos, quando eu engatinhava no mundo do vinho, a porta de entrada eram os tintos sul-americanos, especialmente os malbec mais simples das maiores vinícolas argentinas e os cabernet sauvignon do Chile. Se você já estava com a taça na mão como eu, sabe que eram vinhos de preço acessível, mas sem surpresa no paladar —eram encorpados, intensos, alcoólicos.

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Naquela época, também, quanto mais dinheiro você tinha, mais meses em barrica comprava: o povo estava fissurado em tudo o que passasse por madeira, o que, entre outras coisas, deixava o vinho grandalhão e potente, com notas que iam da baunilha ao chocolate.

Hoje, veja só, a tendência é o oposto disso, e a palavra da vez é "frescor". Todo e qualquer produtor que se preze fala que faz (ou quer fazer) vinhos frescos. Essa preocupação está não só na enologia —alquimia que começa com a fermentação das uvas e que era antes a etapa mais reconhecida da produção de um vinho—, mas também no campo, na viticultura. Aliás, esta é outra palavra que entrou no léxico marqueteiro do vinho. Isto porque hoje, já que queremos menos adição química, diz-se que "um bom vinho se faz no vinhedo", que é preciso "ter respeito à terra", "intervir menos".

As aspas não são totalmente cínicas, afinal é difícil discordar desse discurso, por mais que ele tenha também o objetivo de falar o que o consumidor quer ouvir. Se o vinho antes tinha dificuldade de atingir um público jovem, ele tem descoberto maneiras de seduzir quem está preocupado com meio ambiente e atento ao comércio justo (justamente o jovem).

Uma das estradas mais certeiras é a dos naturais, orgânicos e biodinâmicos, que atraem primeiro por se vestirem em garrafas e rótulos coloridos e lindos e depois pelas histórias que carregam: são livres de convenções, experimentam com uvas menosprezadas em regiões desconhecidas, feitos por pequenos produtores que vivem da terra e, logo, cuidam bem dela. Assim, multiplicam-se as possibilidades de paladar e, mais impressionante ainda, o mapa-múndi do vinho. Quem, há 20 anos, pensaria em tomar um syrah paulista ou um espumante da Chapada Diamantina?

Quem bebe hoje tem mais estilos e "cores" a escolher, um arco-íris que ainda vai do branco ao tinto, mas que passa pelo laranja, o rosado, o clarete (um rosa escuro), os espumantes e um mundo de fortificados, como o jerez.

Essa nova realidade pode tornar o ato de escolher um rótulo em uma carta de vinho uma aventura mais desafiadora do que há 20 anos. Mas isso não é necessariamente ruim, considerando que há hoje mais sommeliers animados, smartphones que possibilitam pesquisas rápidas à mesa e tantas oportunidades de se aprender por aí.

Se você está começando a beber agora, além da já citada inveja, posso oferecer dois conselhos óbvios, mas cruciais. Primeiro, beba com atenção. Isso quer dizer: tente guardar suas reações físicas e emocionais após cada gole. Depois, prefira taças a garrafas, assim você aumentará a litragem e o entendimento do que realmente o faz feliz.

O que você está lendo é [Dá para sentir inveja de quem começa a beber vinho hoje].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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